Enrolei, enrolei, e não escrevi nada este mês. Meu Deus, o ano acaba amanhã, preciso pensar em algo rapidamente. Estou mesmo sem nenhuma inspiração para pensamentos magnânimos, manifestações que parecem falsas, votos de tudo de bom. Não que eu tenha perdido o bonde e a esperança, longe de mim. Ainda encontro motivação para matar um leão a cada dia e, mesmo assim, olhar os fatos com otimismo - embora não tenha feito nenhum pedido especial a Papai Noel por receio de frustrar minhas expectativas. Então, paremos um minuto e ouçamos o que diz Drummond na sua simplicidade :
Sente bem este instante e grava-o no cristal
da memória infantil, agora ressurgida.
A beleza e a bondade enlaçam-se afinal.
Vamos recomeçar o caminho da vida.
(CDA - Receita de Ano Novo)
É isso: penso em tudo o que vivi em 2009, no que gostaria de ter evitado e não consegui, no que tive que aprender, em como usei os talentos que me foram dados. O melhor desse balanço é a possibilidade de começar um novo ciclo com esperança de poder fazer tudo melhor. A todos, Feliz Ano Novo! Que 2010 seja do tamanho que merecemos!
quarta-feira, dezembro 30
sábado, dezembro 19
quarta-feira, dezembro 2
No templo de consumo
Hoje fiz algo inusitado: fui ao shopping. Não sei nem dizer qual foi última vez que fui parar naquele templo de consumo, deve ter sido atrás de uma lista de casamento, que a maioria das noivas deixam na Dadalto. Decididamente não sou assídua em shoppings. Por necessidade ou opção, estou me tornando cada vez mais minimalista, quero aprender a viver com o mínimo necessário(nada de votos de pobreza, outra hora explico isto).
Quando eu falo, as pessoas não acreditam: não conheço o shopping Praia da Costa. Ao Norte-Sul fui uma vez carregada por uma amiga. Mas hoje precisava realmente ir ao shopping. Fui logo na abertura, assim evitei ficar me desviando das pessoas e garanti um silêncio extra. Tranquila, entrei nas três principais lojas de eletrodomésticos fazendo pesquisa de preço, que meu dinheiro não cresce como grama. No trajeto entre uma e outra, vi lojas e mais lojas desconhecidas, não tinha a menor idéia de que existiam. Entrei numa delas pra olhar umas sandálias, que acabei comprando, e, conversando com a vendedora, disse que conhecia a loja de Beagá e que nunca tinha visto a loja ali naquele local. Fiquei consolada quando ela me garantiu que eu não era a única. Daí eu arrisquei e perguntei se era nova. Pra minha surpresa ela respondeu que sim, que tinha mais ou menos quatro anos e meio de existência. Pensei que tava gozando da minha cara, mas não. Que mico o meu! Quando estava voltando à primeira loja da pesquisa (por que é que sempre voltamos pra comprar na primeira, hein? ), vi uma perfumaria nova – a Mahogany - e entrei pra sondar. Os frascos são lindos, os perfumes deliciosos e tem um óleo corporal que adoro. Conversa vai, conversa vem, a mesma pergunta: quando foi inaugurada? Há mais ou menos um ano e meio. Tive que rir mais uma vez. Se convenceram de que se o shopping Vitória estiver querendo aumentar as vendas não vai ser com o meu rico dinheirinho, né?
Demorei mais tempo do que havia planejado, mas voltei pra casa bem alegrinha com meu presente. Tchan-tchan-tchan-tchannnnn... um circulador de ar básico. E quem foi que disse que quero derreter nesta primavera com pinta de alto verão?
sábado, novembro 28
Eu vô falá pa tu se ligá véi...
Socorro! Não é que alguém resolveu fazer uma festa no prédio ao lado movida a DJ e tudo! É quase meia-noite e o som tá bombando. Chamei à portaria do meu prédio só pra tomar o pulso da situação e fiquei sabendo que outras pessoas tinham feito o mesmo antes de mim. Tem gente na janela reclamando. Mas ninguém toma nenhuma providência. Precisam ver o repertório: só funk e pagode, daqueles brabos, mais brega impossível. O batidão tá enchendo o saco pra lá de duas horas, gente. Imagino que a festa deve estar cheia de mulheres-fruta e meninos de boné virado pra trás com calças folgadas. Vai ver não é nada disso, só preconceito meu. Bem, liguei pro Disk Silêncio, que chegou até rápido. Os fiscais subiram aqui no apartamento pra fazer a medição de decibéis durante cinco minutos e disseram que iam lá pedir para os jovens diminuírem o volume. Ufa! Enquanto escrevo, o som diminuiu um pouquinho, mas pelo jeito estão só esperando os fiscais irem embora. Ai, ai, ai. Vou tomar um rivotril básico e relaxar. Quem sabe acabo pegando no sono assim mesmo?
quinta-feira, novembro 26
Mal-me quer, bem-me-quer...
Li em algum lugar, gostei, achei que tem tudo a ver, daí reproduzo aí embaixo só pra fazer vocês pensarem um pouquinho a respeito.
"No mundo sempre existirão pessoas que vão te amar pelo que você é, e outras que vão te odiar pelo mesmo motivo. Acostume-se".
Assim caminha a humanidade, né não?
Agora, quem souber quem é o autor de verdade do pensamento, please me diga que eu acrescento aqui.
terça-feira, novembro 17
Liga, vai...
Se a liga me ligasse, eu também ligava a liga; mas a liga não me liga, eu também não ligo a liga.
Sacou? Beijo me liga!
Sacou? Beijo me liga!
domingo, novembro 15
RODA MUNDO, RODA GIGANTE...
Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu...
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega o destino prá lá ...
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...
A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a roseira prá lá...
De vez em quando esta canção me vem à mente, talvez porque expresse meu sentimento de frustração por não conseguir tomar a vida nas mãos e colocá-la nos trilhos de novo, na direção que eu quero, no tempo que quero... Mas ela me faz também cair na real, saber que meu poder pra isso é relativo e que de nada adianta pressa nem ansiedade. Piso no freio e reflito, o mundo às vezes é cruel, mas não há baixo astral que vá tirar minha gana de ir em frente, apesar de. E como isso aqui já tá virando dramalhão de Manoel Carlos, viro o disco e penso em momentos felizes, penso na alegria de ter minha filha de volta, depois de longos anos de ausência. Por enquanto é apenas um projeto, uma expectativa. Mas que faz meu coração bater mais forte. E me dá ânimo pra continuar indo contra a corrente nesta roda viva.
(Chico é sempre Chico, super!)
sexta-feira, novembro 6
Histórias de aniversário
Primeiro a triste. É inevitável. Vai se aproximando o dia e também aumentando a ansiedade. Fazer aniversário tem um lado bom, de poder dizer “venci mais um”, mas também tem um lado nostálgico, de acordar com vontade de amarrar o tempo, de pedir pra ele não andar tão rápido. Aniversário pra mim é que nem réveillon, dia de olhar pra trás e avaliar o que deixei de fazer e também o que fiz e não devia ter feito. No plano astrológico, é o fechamento de um ciclo e o início de outro e isso provoca certa turbulência. Passou! Com tantas mensagens carinhosas, até que não foi muito traumático desta vez.
Depois a engraçada. Fui buscar a torta na doceria. Já vieram buscar, informou a moça. Como assim, já vieram buscar? Eu vim buscar. Ah, uma torta de chocolate para quinze pessoas? Não, de abacaxi com coco para dez pessoas. Por coincidência as duas encomendas, para o mesmo dia e horário, tinham sido feitas por duas Reginas. O marido de uma chegou primeiro e carregou a torta da outra. Quero minha torta de abacaxi de volta, argumentava a outra. A solução foi pegar o telefone, se desculpar pela trapalhada e pedir gentilmente que o marido viesse destrocar a torta antes que a mulher dele chegasse do salão e o acusasse de incompetência, coitado. Quinze minutos e algumas risadas depois, cheguei com a torta autêntica em casa. Essas coisas só acontecem comigo, pode acreditar.
quarta-feira, outubro 28
Eu tuíto, você tuíta, nós tuitamos
Quando você abre o computador e vai direto pro twitter antes de checar os emails, aí, então, o vício ta começando a ficar sério. Essa eu ouvi, digo, li outro dia no próprio, o programa sensação do momento, onde participam gente de toda espécie - celebridades, políticos, jornalistas, apresentadores de tv, humoristas, artistas e pessoas comuns. Uma verdadeira febre, que tende a aumentar com as campanhas políticas. Também estou por lá, acompanhando o tom da política e da pouca vergonha de suas personagens. Mas me cuidando pra não me deixar contaminar por aquele vírus. Fico de fora observando a fogueira de vaidades, que ali se manifesta na declaração de quantos seguidores alguém conquistou ou na autopromoção com base nas retuitadas. Falando sério: estou mais preocupada com qualidade do que com quantidade, além de não ter tempo pra desperdiçar com bobagens em excesso. Por outro lado, acho um bom exercício dizer coisas inteligentes rapidamente em 140 caracteres. Lembrando sempre que em boca fechada não entra mosca. É isso.
domingo, outubro 18
ZAP, ZAP...
Outro dia, numa dessas leituras exploratórias em busca de algum texto que pudesse estimular o interesse mais imediato de meus alunos, encontrei um conto de Moacyr Scliar muito bem escrito e, de quebra, pungente, que acabou provocando algumas reflexões sobre minha relação com a televisão. O conto se chama Zap e relata o hábito de um pré-adolescente de ficar mudando constantemente de canal. A cada propaganda que não interessa, a cada programa maçante, novela enfadonha ou não, desenho repetido pela centésima vez no ano, ele vai mudando de canal, tentando encontrar algo que corresponda à sua expectativa no momento. O menino não é o único amigo íntimo do controle remoto da TV, como se sabe. Tanto que se criou o verbo zapear, de uso comum nas conversas sobre programas televisivos. Confesso que me vi na figura do menino. Vejo pouco televisão e, quando vejo, estou sempre zapeando. Não tenho muita paciência para reality show, games, assistencialismos que rendem muitas lágrimas e alta audiência, apresentadores que não falam mais que os entrevistados e apresentadoras louras (já perceberam que são todas louras?). Mas há coisas interessantes, basta saber procurar, me dizem amigos e parentes. É bem provável que sim, admito que eu é que não sou muito paciente. Além disso minhas opções resumem-se aos canais abertos, não tenho assinatura dos pagos porque o número de vezes que me sentaria diante da tela não compensaria o preço cobrado. Não pensem, porém, que minha antipatia por esse veículo chega às raias da intolerância. Não, até que gosto de sintonizar os jornais na hora do almoço. São um santo remédio: depois de comer, é só esticar o corpo no sofá da sala e fechar os olhos. Não há soneca melhor e mais revigorante. Com sorte, acordo em tempo de ouvir o convite dos apresentadores para o dia seguinte.
quinta-feira, outubro 15
Do you know Manoel de Barros?
Um pouco da poesia reinventada de Manoel de Barros nesta noite quente de primavera.
Escrever nem uma coisa Nem outra -
A fim de dizer todas
Ou, pelo menos, nenhumas.
Assim,
Ao poeta faz bem
Desexplicar -
Tanto quanto escurecer acende os vaga-lumes.
Escrever nem uma coisa Nem outra -
A fim de dizer todas
Ou, pelo menos, nenhumas.
Assim,
Ao poeta faz bem
Desexplicar -
Tanto quanto escurecer acende os vaga-lumes.
domingo, outubro 4
Tem que morrer pra germinar
E porque hoje é domingo, aí vai uma crônica de Paulo Mendes Campos, uma de suas melhores, aliás. Vale a pena gastar alguns segundos na leitura.
O Amor Acaba
O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas; na acidez da aurora tropical, depois duma noite votada à alegria póstuma, que não veio; e acaba o amor no desenlace das mãos no cinema, como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão; como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado; na insônia dos braços luminosos do relógio; e acaba o amor nas sorveterias diante do colorido iceberg, entre frisos de alumínio e espelhos monótonos; e no olhar do cavaleiro errante que passou pela pensão; às vezes acaba o amor nos braços torturados de Jesus, filho crucificado de todas as mulheres; mecanicamente, no elevador, como se lhe faltasse energia; no andar diferente da irmã dentro de casa o amor pode acabar; na epifania da pretensão ridícula dos bigodes; nas ligas, nas cintas, nos brincos e nas silabadas femininas; quando a alma se habitua às províncias empoeiradas da Ásia, onde o amor pode ser outra coisa, o amor pode acabar; na compulsão da simplicidade simplesmente; no sábado, depois de três goles mornos de gim à beira da piscina; no filho tantas vezes semeado, às vezes vingado por alguns dias, mas que não floresceu, abrindo parágrafos de ódio inexplicável entre o pólen e o gineceu de duas flores; em apartamentos refrigerados, atapetados, aturdidos de delicadezas, onde há mais encanto que desejo; e o amor acaba na poeira que vertem os crepúsculos, caindo imperceptível no beijo de ir e vir; em salas esmaltadas com sangue, suor e desespero; nos roteiros do tédio para o tédio, na barca, no trem, no ônibus, ida e volta de nada para nada; em cavernas de sala e quarto conjugados o amor se eriça e acaba; no inferno o amor não começa; na usura o amor se dissolve; em Brasília o amor pode virar pó; no Rio, frivolidade; em Belo Horizonte, remorso; em São Paulo, dinheiro; uma carta que chegou depois, o amor acaba; uma carta que chegou antes, e o amor acaba; na descontrolada fantasia da libido; às vezes acaba na mesma música que começou, com o mesmo drinque, diante dos mesmos cisnes; e muitas vezes acaba em ouro e diamante, dispersado entre astros; e acaba nas encruzilhadas de Paris, Londres, Nova Iorque; no coração que se dilata e quebra, e o médico sentencia imprestável para o amor; e acaba no longo périplo, tocando em todos os portos, até se desfazer em mares gelados; e acaba depois que se viu a bruma que veste o mundo; na janela que se abre, na janela que se fecha; às vezes não acaba e é simplesmente esquecido como um espelho de bolsa, que continua reverberando sem razão até que alguém, humilde, o carregue consigo; às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido; mas pode acabar com doçura e esperança; uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor; na verdade; o álcool; de manhã, de tarde, de noite; na floração excessiva da primavera; no abuso do verão; na dissonância do outono; no conforto do inverno; em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba.
O Amor Acaba
O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas; na acidez da aurora tropical, depois duma noite votada à alegria póstuma, que não veio; e acaba o amor no desenlace das mãos no cinema, como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão; como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado; na insônia dos braços luminosos do relógio; e acaba o amor nas sorveterias diante do colorido iceberg, entre frisos de alumínio e espelhos monótonos; e no olhar do cavaleiro errante que passou pela pensão; às vezes acaba o amor nos braços torturados de Jesus, filho crucificado de todas as mulheres; mecanicamente, no elevador, como se lhe faltasse energia; no andar diferente da irmã dentro de casa o amor pode acabar; na epifania da pretensão ridícula dos bigodes; nas ligas, nas cintas, nos brincos e nas silabadas femininas; quando a alma se habitua às províncias empoeiradas da Ásia, onde o amor pode ser outra coisa, o amor pode acabar; na compulsão da simplicidade simplesmente; no sábado, depois de três goles mornos de gim à beira da piscina; no filho tantas vezes semeado, às vezes vingado por alguns dias, mas que não floresceu, abrindo parágrafos de ódio inexplicável entre o pólen e o gineceu de duas flores; em apartamentos refrigerados, atapetados, aturdidos de delicadezas, onde há mais encanto que desejo; e o amor acaba na poeira que vertem os crepúsculos, caindo imperceptível no beijo de ir e vir; em salas esmaltadas com sangue, suor e desespero; nos roteiros do tédio para o tédio, na barca, no trem, no ônibus, ida e volta de nada para nada; em cavernas de sala e quarto conjugados o amor se eriça e acaba; no inferno o amor não começa; na usura o amor se dissolve; em Brasília o amor pode virar pó; no Rio, frivolidade; em Belo Horizonte, remorso; em São Paulo, dinheiro; uma carta que chegou depois, o amor acaba; uma carta que chegou antes, e o amor acaba; na descontrolada fantasia da libido; às vezes acaba na mesma música que começou, com o mesmo drinque, diante dos mesmos cisnes; e muitas vezes acaba em ouro e diamante, dispersado entre astros; e acaba nas encruzilhadas de Paris, Londres, Nova Iorque; no coração que se dilata e quebra, e o médico sentencia imprestável para o amor; e acaba no longo périplo, tocando em todos os portos, até se desfazer em mares gelados; e acaba depois que se viu a bruma que veste o mundo; na janela que se abre, na janela que se fecha; às vezes não acaba e é simplesmente esquecido como um espelho de bolsa, que continua reverberando sem razão até que alguém, humilde, o carregue consigo; às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido; mas pode acabar com doçura e esperança; uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor; na verdade; o álcool; de manhã, de tarde, de noite; na floração excessiva da primavera; no abuso do verão; na dissonância do outono; no conforto do inverno; em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba.
sábado, outubro 3
Tuitando, um novo verbo
terça-feira, setembro 29
À moda do twitter
quarta-feira, setembro 23
Música & humor
Há mais ou menos onze anos, quando dei meus primeiros passos no ciberespaço, quis fazer uma página com alguns dos versos mais bonitos da MPB, desde o bom e velho samba-canção, passando pela bossa nova, chicos, miltons e caetanos, e incluindo alguns jovens e talentosos compositores de agora. A idéia era fazer uma seleção de letras que, de algum modo, falassem de amor – amor romântico, amor de malandro, falta de amor, paixão, falso amor, dor de corno, enfim a intenção era mostrar que “qualquer maneira de amor vale a pena”, idéia com a qual não concordo muito, mas que admito por desejo de parecer liberal nessa matéria. Cheguei de fato a fazer uma pré-seleção, que foi passando de computador para computador e continua até hoje arquivada aqui. Mas por que me lembrei disso agora? Porque vira e mexe me vem um par daqueles versos à cabeça, assim quando baixa uma nostalgia e sinto falta de um homem pra chamar de meu (coisa rara, felizmente). Por hoje, fica uma metáfora de Djavan: O amor é um grande laço/ Um passo pra uma armadilha/ Um lobo correndo em círculo/ Pra alimentar a matilha...
domingo, setembro 13
É Rubinho chegando mais uma vez....
sexta-feira, setembro 11
ONZE DE SETEMBRO (2 momentos)
SÓ PRA NÃO ESQUECER O QUE NINGUÉM GOSTA DE LEMBRAR
11 de setembro de 1973
11 de setembro de 1973
Santiago, Chile
Palácio de La Moneda, sede do governo, bombardeado pelos inimigos do presidente Allende, chefiados pelo sanguinário Pinochet, com o apoio dos Estados Unidos.
11 de setembro de 2001
Nova Iorque, Estados Unidos
World Trade Center, no centro financeiro da cidade, dois aviões atravessam as torres gêmeas, num atentado que mostrou a vulnerabilidade dos Estados Unidos em seu próprio território, deixando o país e o mundo em estado de choque.
quinta-feira, setembro 10
Mulher Antenada
Ela não está nem aí para a ditadura da moda. Só usa aquilo que a favorece e a faz sentir-se confortável. Em lugar de exageradas malhações, alimentação equilibrada e exercícios físicos na medida certa. Não abre mão de uma rotina saudável.
Ela enfrenta a vida com otimismo e bom humor, embora reconheça que nem sempre o rumo dos acontecimentos vai na mesma direção dos seus sonhos. Por amor, ah, por amor se desdobra, faz sacrifícios. Está sempre pronta a aprender um truquezinho a mais para deixar o seu homem mais feliz. Fêmea, felina, feminina... cabem tantas mulheres dentro de uma só!
Ela quer mesmo é ser compreendida, amada, respeitada. E porque sabe que tudo isso começa no mundo profissional, administra o tempo para ler mais, para participar de cursos, informar-se, fazer upgrades periódicos em seus conhecimentos. O trabalho doméstico não tem tanta urgência, o que não pode esperar é o relatório, que precisa estar impecável na reunião do dia seguinte, ou o futuro das centenas de empregados que aguardam sua decisão sobre o aumento salarial.
Pouco a pouco, ela vai conquistando posições e impondo um novo olhar sobre a realidade, sensível diferencial. No lar ou na empresa, a incorporação de novas tecnologias à sua rotina foi fundamental. Ela, a mulher antenada, é, antes de tudo, íntima da informática. Viaja na fantasia dos chats, rompe barreiras linguístico-culturais e cultiva amigos neste e noutros continentes. Ambiciosa e atualizada, está sempre buscando informação nova. Tenta tirar vantagem das possibilidades que a internet oferece não só para realizar negócios, como também para encurtar o tempo gasto em compras. Ela está sintonizada com o mundo. Há muito compreendeu e se empenha para transformá-lo num lugar menos desumano para as atuais e as futuras gerações. A MULHER ANTENADA é plural, embora não deixe nunca de ser singular em suas manifestações.
terça-feira, setembro 1
Volta, Saramago!
Saramago desistiu de blogar. Que pena! Era uma delícia ler seus posts naquele português impecável com um colorido que só o talento dos grandes pode nos proporcionar. Leiam aí embaixo a delicadeza da sua despedida. Vai fazer falta...
Despedida
Agosto 31, 2009 por José Saramago
Diz o refrão que não há bem que sempre dure nem mal que ature, o que vem assentar como uma luva no trabalho de escrita que acaba aqui e em quem o fez. Algo de bom se encontrará neste textos, e por eles, sem vaidade, me felicito, algo de mal terei feito noutros e por esse defeito me desculpo, mas só por não tê-los feito melhor, que diferentes, com perdão, não poderiam eles ser. Às despedidas sempre conveio que fossem breves. Não é isto uma ária de ópera para lhe meter agora um interminável adio, adio. Adeus, portanto. Até outro dia? Sinceramente, não creio. Comecei outro livro e quero dedicar-lhe todo o meu tempo. Já se verá porquê, se tudo correr bem. Entretanto, terão aí o “Caim”.
P. S – Pensando melhor, não há que ser tão radical. Se alguma vez sentir necessidade de comentar ou opinar sobre algo, virei bater à porta do Caderno, que é o lugar onde mais a gosto poderei expressar-me.
Publicado em O Caderno de Saramago Comentários Desligados
Despedida
Agosto 31, 2009 por José Saramago
Diz o refrão que não há bem que sempre dure nem mal que ature, o que vem assentar como uma luva no trabalho de escrita que acaba aqui e em quem o fez. Algo de bom se encontrará neste textos, e por eles, sem vaidade, me felicito, algo de mal terei feito noutros e por esse defeito me desculpo, mas só por não tê-los feito melhor, que diferentes, com perdão, não poderiam eles ser. Às despedidas sempre conveio que fossem breves. Não é isto uma ária de ópera para lhe meter agora um interminável adio, adio. Adeus, portanto. Até outro dia? Sinceramente, não creio. Comecei outro livro e quero dedicar-lhe todo o meu tempo. Já se verá porquê, se tudo correr bem. Entretanto, terão aí o “Caim”.
P. S – Pensando melhor, não há que ser tão radical. Se alguma vez sentir necessidade de comentar ou opinar sobre algo, virei bater à porta do Caderno, que é o lugar onde mais a gosto poderei expressar-me.
Publicado em O Caderno de Saramago Comentários Desligados
segunda-feira, agosto 31
Dá cá um abraço
Hoje me bateu uma saudade danada de um amigo querido que não encontro há bastante tempo, talvez pra mais de cinco anos. E, pasmem, vivemos na mesma cidade. Fiquei pensando em como vamos permitindo a vida nos afastar das pessoas que amamos, assim, sem a menor reação. Um belo dia, nos damos conta de que o tempo passou e, infelizmente, nada será como antes. Essa pessoa que trago na minha memória afetiva provavelmente não existe mais. Estarão grisalhos os cabelos? Terá ganho, como eu, uns quilos a mais? Marcas do tempo no rosto, na pele, na postura? Nada disso importa, o sorriso com certeza ainda será o mesmo, um pouco tímido, um tanto descarado. Talvez não tenha mudado também o jeito engraçado de falar, ironizando os problemas, e transbordando ternura quando recorda fatos da sua (nossa) juventude... Que bom seria ganhar um abraço seu agora, amigo, e relembrar aquele tempo mágico! Peço ajuda a Drummond: “Eu não devia te dizer, mas essa lua, mas esse conhaque, botam a gente comovido como o diabo”.
sábado, agosto 29
Já vai tarde...
Não sou do tipo noveleira, mas passei a seguir o caminho das índias depois que já tinha ido ao ar cerca de 60%. Ver do início decididamente não tenho paciência. De um modo geral, as novelas da Globo são muito previsíveis, basta conhecer as tendências do autor. Além disso, as personagens vão sofrendo transformações e o enredo vai mudando ao sabor do Ibope e da empatia que as personagens conseguem estabelecer com o público. Não deu outra na novela indiana. Gloria Perez construiu uma história pretensiosa, com um elenco de atores do primeiro time da Globo e muitas histórias paralelas, que não chegaram a ser minimamente desenvolvidas. Quanto talento desperdiçado! Por isso mesmo alguns atores manifestaram sua insatisfação por terem desempenhado papéis que não estavam a altura do seu cacife na emissora. Lembro de ter lido uma reclamação de Danton Mello, que estava sempre mudo em cena. Outros tiveram mais sorte, mas diziam sempre as mesmas falas sempre que apareciam, por exemplo, atores experientes como Flávio Migliaccio e José de Abreu. Mas quem deve estar mesmo muito incomodado com a situação é o ótimo Márcio Garcia. Protagonista, junto com Juliana Paes e Rodrigo Lombardi, acabou ficando em segundo plano e, durante muitos capítulos, não deu sinal de vida. Tudo porque o casal Maya/Raj caiu nas graças do público. Dei uma olhada nos comentários nos sites da novela: a torcida para que o apatetado Raj perdoe Maya e sejam felizes para sempre é enorme. Pelos boatos, para não ter que fazer isso, ele vai morrer no final. E, claro, Bahuan vai impedir que a dissimulada Maya se afogue no Ganges.
Marcio Garcia não precisa fazer caras e bocas para interpretar, como o sem graça Lombardi, e se saiu muito bem no papel do atormentado e ambicioso Bahuan. Mas nem por milagre vai terminar a novela com os louros que merece. Para quem deixou o posto de “O melhor do Brasil”, na Record, para voltar à Globo com a promessa de viver um protagonista no horário nobre, não deixa de ser um banho de água fria.
Marcio Garcia não precisa fazer caras e bocas para interpretar, como o sem graça Lombardi, e se saiu muito bem no papel do atormentado e ambicioso Bahuan. Mas nem por milagre vai terminar a novela com os louros que merece. Para quem deixou o posto de “O melhor do Brasil”, na Record, para voltar à Globo com a promessa de viver um protagonista no horário nobre, não deixa de ser um banho de água fria.
quinta-feira, agosto 27
Antes que acabe...
Depois que Ivone deu um pé em Raul mostrando a ele o caminho dos sem-grana, as transas da novela das oito que começa às nove perderam todo o élan. Ivone ainda tentou iniciar Ramirinho no esporte, mas foi logo jogada pra escanteio pela neurótica Melissa, que, no entanto, entre uma bela jóia , cremes milagrosos e amassos sem graça do marido, escolhe sempre os primeiros. No núcleo carioca, só a Norminha tem algum fogo e vai à luta pra apagá-lo como pode. Agora, o que causa espanto mesmo é o grupo indiano. O único casal que se pega pra valer é Maya/Raj, assim mesmo até deitarem na cama e a câmera ir subindo em direção ao teto e às cortinas. Esperta, Maya tenta de todas as maneiras amarrar o otário na esperança de não ter que se atirar num poço ou se afundar nas águas do Ganges, quando o filho bastardo for descoberto. As mulheres indianas são tão dissimuladas que Surya carrega uma barriga falsa e vai parir, sem que o marido, durante nove meses, toque nela. Are baba! Nem a firanghi estrangeira com seu Ravi com cara de bobalhão escapam da falta de romance. Não, não venham me dizer que é a representação da cultura indiana, que os homens e mulheres não podem demonstrar tesão em público e coisa e tal. No país que inventou o Kama Sutra e o sexo tântrico, isso seria até deboche. Alguém vai argumentar que Glória Perez está mais interessada em discutir esquizofrenia, psicopatia, pais omissos/filhos rebeldes e outras cositas más. Tudo bem, tudo bem. Mas pelamordedeus, que está faltando um pouquinho de tempero nessas samossas, ah, isso tá. Atcha!
domingo, agosto 23
ACELERA, RUBINHO!
Já escrevi aqui sobre o fato de Rubinho ser o desportista brasileiro mais achincalhado de todos os tempos e sobre sua postura sempre digna diante das provocações. Por isso estou mais do que feliz com a sua vitória de hoje. Veio num momento mais que justo. Os meios esportivos não perdoam a falta de sorte de Barrichello, exigem que ele repita a façanha de Senna e, agora, elegeram Felipe Massa como 'instant darling'. Por que não podemos ter DOIS campeões? Por que não podemos aceitar que no mundo da Fórmula 1 não basta esforço e competência, visto que há muitos interesses em jogo? Acelera, Rubinho! O pódium te espera outras vezes,
conte com a minha torcida.
Obs. A foto é de José Jordan, da AFP, chupada do UOL.
quinta-feira, agosto 20
domingo, agosto 16
Inaugurando...
Ontem abri os salões do home sweet home para um jantarzinho básico entre familiares. Meia dúzia de pessoas apenas, a sala pequena não comporta mais que isso de uma vez. Boa comida, bom vinho, e uma torta de limão de dar água na boca. E bom papo, claro. Não houve fita cortada, nem discurso, mas o propósito da reunião era mesmo inaugurar o novo teto.
Só pra me posicionar. Sou defensora intransigente da chamada lei seca, acho até que as punições para quem dirige embriagado são muito leves e que é necessário endurecer. Sofro junto com as dores expostas diariamente nas telas da tv, com a progressão geométrica das estatísticas de mortes no trânsito. Por isso, por mais que o vinho de ontem fosse da melhor qualidade , quem tinha que pegar o carro pra voltar pra casa teve mesmo que se contentar com duas taças e muita água depois. Não dá mais pra ser irresponsável.
Mas este post não é pra falar de coisas dramáticas. Queria apenas mostrar a plantinha que ganhei de uma das convidadas, esse vaso no cestinho aí ao lado. O cartão que a acompanha diz que seu nome científico é zamioculcas zamifolia e é originada da Tanzânia. Adorei! Só tenho que tomar cuidado pra não afogar a danada nem deixar ela exposta ao sol. Ao contrário de mim, ela é avessa a água e ambientes externos, prefere um cantinho com pouca luminosidade. Delicada e cheia de personalidade. Vamos ver se conseguimos nos entender...
quarta-feira, agosto 12
Tentando voltar
Socorro! Fiquei bloqueada três dias sem poder nem entrar aqui. O jeito foi chamar um técnico, que fez uma faxina, instalou alguns dispositivos, reconstituiu arquivos corrompidos etc. Agora já consigo postar alguma coisa, mas não está ainda cem por cento. Seguramente são problemas internos no servidor do blog. Vamos torcer pra se normalizar rápido.
sexta-feira, agosto 7
Leminskiana
Hoje estou pra lá de leminskiana. Por que será que ele pensou primeiro o que eu queria pensar?
CONTRANARCISO
em mim
eu vejo o outro
e outro
e outro
enfim dezenas
trans passando
vagões cheios de gente
centenas
o outro
que há em mim
é você
você
e você
assim como
eu estou em você
eu estou nele
em nós
e só quando
estamos em nós
estamos em paz
mesmo que estejamos a sós
CONTRANARCISO
em mim
eu vejo o outro
e outro
e outro
enfim dezenas
trans passando
vagões cheios de gente
centenas
o outro
que há em mim
é você
você
e você
assim como
eu estou em você
eu estou nele
em nós
e só quando
estamos em nós
estamos em paz
mesmo que estejamos a sós
quinta-feira, agosto 6
quinta-feira, julho 30
Drummond, sempre Drummond
“Que pode uma criatura senão, entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho,em rotação universal,
senão rodar também, e amar ?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia ?”
Os versos – lindos – pertencem ao poema Amar, de Drummond. Os questionamentos do poeta não terminam aí, mas foi esse início que me veio à mente assim, de repente, quando pensei em postar algo neste fim de tarde. Vai saber por quê. Nem posso dizer que este é meu poema preferido. Em se tratando de Drummond, aliás, estabelecer qualquer predileção seria “un embarras du choix”, como diriam os franceses. Então, o que teria acionado no meu cérebro tal associação? Ora, não encontrei ninguém especial, tive um dia agitado, nenhuma melancolia passou por perto, estou focada em decisões que não tangenciam nem de leve questões amorosas, etecetera etecetera. No entanto, os versos iniciais do poema vieram à tona de uma só vez, claros, incisivos.
Corri à antologia para checar as palavras exatas de algumas sequências. Permanece o mistério! E daí? Você, meu parceiro, provavelmente concorda que isso não tem a menor importância. O que vale mesmo é o fato de versos escritos há tanto serem ainda tão marcantes e poderem ser recuperados na memória com tanta facilidade. Melhor deixar de lado as explicações, retornar ao início e refletir sobre o significado das palavras do poeta.
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho,em rotação universal,
senão rodar também, e amar ?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia ?”
Os versos – lindos – pertencem ao poema Amar, de Drummond. Os questionamentos do poeta não terminam aí, mas foi esse início que me veio à mente assim, de repente, quando pensei em postar algo neste fim de tarde. Vai saber por quê. Nem posso dizer que este é meu poema preferido. Em se tratando de Drummond, aliás, estabelecer qualquer predileção seria “un embarras du choix”, como diriam os franceses. Então, o que teria acionado no meu cérebro tal associação? Ora, não encontrei ninguém especial, tive um dia agitado, nenhuma melancolia passou por perto, estou focada em decisões que não tangenciam nem de leve questões amorosas, etecetera etecetera. No entanto, os versos iniciais do poema vieram à tona de uma só vez, claros, incisivos.
Corri à antologia para checar as palavras exatas de algumas sequências. Permanece o mistério! E daí? Você, meu parceiro, provavelmente concorda que isso não tem a menor importância. O que vale mesmo é o fato de versos escritos há tanto serem ainda tão marcantes e poderem ser recuperados na memória com tanta facilidade. Melhor deixar de lado as explicações, retornar ao início e refletir sobre o significado das palavras do poeta.
terça-feira, julho 28
Dançando conforme a música?
De vez em quando dou uma passeadinha nos colunistas da Veja online. Até para ter o termômetro dos ‘formadores de opinião’. Tem os conservadores ao extremo, os conservadores médios e os simplesmente conservadores . Todos os matizes políticos. Às vezes são até engraçados na sua tentativa de convencer a gregos e goianos de que o país não tem mais jeito, mas no geral, são patéticos. Por que você perde tempo lendo, então? - alguém poderia questionar. A resposta é simples: porque sei reconhecer e admirar a inteligência dos ‘formadores’, e respeito seu modo de pensar. Mas não é sobre nada disso que queria falar e sim destacar uma colunista em particular, a escritora e psicanalista Betty Milan, que mantém ali uma coluna chamada Consultório Sentimental. É o próprio! Os leitores escrevem contando alguma experiência traumática, fazem confidências e, claro, querem ouvir a opinião profissional de Milan. Discípula de Lacan, a moça não passa a mão na cabeça dos analisados. Mas tudo com muita competência e delicadeza. Foi de um desses conselhos que retirei o seguinte trecho: “Quem se enrijece numa posição, quem não tem ginga, sofre. A gente precisa aprender a dançar com a música e este aprendizado não tem fim porque a vida surpreende. Requer a nossa transfiguração, a mudança de perfil. Neste sentido, ela é como o teatro e nós como os atores que encarnam diferentes personagens.”
Fiquei alguns minutos matutando sobre tal ensinamento, tão simples e tão verdadeiro. Quantas personagens – boas, más, medianas – fui impelida a interpretar nesta minha existência, muitas delas conta a minha vontade! Algumas vezes resisti à mudança de caracterização, nadei contra a maré, quis imprimir um ritmo pessoal à música, transgredir... Realmente a vida surpreende! É preciso flexibilidade e perspicácia para perceber o que ela está querendo nos ensinar. E é o inesperado, é nesse desafio diário que reside a beleza de poder construir a felicidade.
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domingo, julho 26
Deu branco!
O que antes era vida pulsando nas folhas verdes embaladas pelo vento, se resume hoje a um paredão de concreto. Seria ela, a mudança de paisagem, a responsável pela ausência de idéias, da momentânea indisposição para escrever, do querer ficar quietinha no meu canto sem dar um pio sequer? Pela janela do meu escritório já não entra o sol nem o canto de sanhaços e sabiás. Em vez disso, o pi-pi-pi irritante do portão da garagem quatro andares abaixo, indicando um vai e vem incessante de carros. Tirante o branco mental e o mau humor just because, o resto dá pra tirar de letra. A gente se habitua a coisas piores, né não?
sábado, julho 25
Nos embalos de sábado à noite. Em casa.
Mais retrô impossível. De leve, neste sábado meio lá-meio cá, a letra de uma bela canção dos irmãos Gershwin, na voz da grande Billie Holiday. Para os que não conseguirem ouvir, resta a opção da letra abaixo. Ou procurar o título no Youtube. (Ouvir de preferência acompanhado de uma boa taça de vinho branco, como eu, agora. Sorry!)
http://www.youtube.com/watch?v=uzJMTSaAl8g
The Man I Love
( George Gershwin/Ira Gershwin)
Someday he'll come along
The man I love
And he'll be big and strong
The man I love
And when he comes my way
I'll do my best
To make him stay
He'll look at me and smile
I'll understand
And in a little while
He'll take my hand
And though it seems absurd
I know we both
Won't say a word
Maybe
I shall meet him Sunday
Maybe monday, maybe not
Still I'm sure
To meet him one day
Maybe Tuesday
Will be my good news day
He'll build a little home
Just meant for two
From which I'd never roam
Who would, would you?
And so all else above
I'm wating
For the man I love
http://www.youtube.com/watch?v=uzJMTSaAl8g
The Man I Love
( George Gershwin/Ira Gershwin)
Someday he'll come along
The man I love
And he'll be big and strong
The man I love
And when he comes my way
I'll do my best
To make him stay
He'll look at me and smile
I'll understand
And in a little while
He'll take my hand
And though it seems absurd
I know we both
Won't say a word
Maybe
I shall meet him Sunday
Maybe monday, maybe not
Still I'm sure
To meet him one day
Maybe Tuesday
Will be my good news day
He'll build a little home
Just meant for two
From which I'd never roam
Who would, would you?
And so all else above
I'm wating
For the man I love
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domingo, julho 19
Decisão difícil
Cena Um
Aquilo que se sabia existir teve, afinal, que ser enfrentado: o que fazer com aqueles animaizinhos presos durante tanto tempo naquele ambiente escuro e úmido? Tinham uma aparência péssima! Alguns mal se sustentavam nas pernas, outros estavam pálidos, com o pelo desalinhado e um olhar de espanto. A bem da verdade, parecia que lhes tinham retirado toda a energia e vontade de viver. Quantas vezes haviam desejado o carinho dos seus donos, uma atenção especial, um olhar que fosse... Mas tudo o que conseguiam, de tempos em tempos, era uma retirada rápida do cubículo, um apressado banho de sol, algum alimento especial e novamente a escuridão e o tédio. Durante anos ficaram assim, abandonados à própria sorte. Será que as alegrias que haviam proporcionado a seus donos, as confidências e carinhos que haviam compartilhado, os ensinamentos de ambas as partes, enfim, os laços de amizade, será que tudo isso havia caído, definitivamente no esquecimento? Não... a vida não podia ser tão injusta assim...
...............................................................................................................................
Cena Dois
A solução não podia esperar mais. Achei melhor não tomar nenhuma decisão sem ouvir as partes interessadas. Que destino deveria dar àqueles bichinhos de pelúcia cheirando a naftalina que habitavam a prateleira superior do guarda-roupa das crianças? Ambas as crianças já ultrapassaram a barreira dos 30 anos, para vocês terem uma idéia do tempo que seus fiéis amiguinhos ficaram, amontoados em sacos plásticos, fora de circulação. Mas por que será que a mãe das crianças conservou por tanto tempo os felpudinhos, mesmo sabendo que poderiam desencadear uma crise alérgica nas filhas, que não suportam poeira ou mofo? Seguramente por excesso de romantismo. Pode ter pensado que os netos (que nem sabe se virão) talvez gostassem de ter em mãos brinquedos com os quais suas mães brincaram (isto se não forem alérgicos também!). Ou talvez, quem sabe, guardar alguns objetos que fizeram parte da infância e pré-adolescência das filhotas seria uma forma de “aprisionar” aqueles momentos na sua memória, uma forma de pensar que elas não cresceram e que necessitam ainda de sua proteção para se livrar dos espinhos da vida. Freud explica? Pode ser! Mas não seria uma raridade no universo materno. Vai, corre lá e pergunta a sua mãe o que ela pensa a respeito.
Final da história? Guardei os bichinhos de pelúcia “por mais um tempo, até eu ver quais deles quero doar para uma instituição de caridade”, como pediu uma filha. E também fiz fotos deles, “pra guardar de lembrança”, como resolveu a outra filha, mais pragmática.
Aquilo que se sabia existir teve, afinal, que ser enfrentado: o que fazer com aqueles animaizinhos presos durante tanto tempo naquele ambiente escuro e úmido? Tinham uma aparência péssima! Alguns mal se sustentavam nas pernas, outros estavam pálidos, com o pelo desalinhado e um olhar de espanto. A bem da verdade, parecia que lhes tinham retirado toda a energia e vontade de viver. Quantas vezes haviam desejado o carinho dos seus donos, uma atenção especial, um olhar que fosse... Mas tudo o que conseguiam, de tempos em tempos, era uma retirada rápida do cubículo, um apressado banho de sol, algum alimento especial e novamente a escuridão e o tédio. Durante anos ficaram assim, abandonados à própria sorte. Será que as alegrias que haviam proporcionado a seus donos, as confidências e carinhos que haviam compartilhado, os ensinamentos de ambas as partes, enfim, os laços de amizade, será que tudo isso havia caído, definitivamente no esquecimento? Não... a vida não podia ser tão injusta assim...
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Cena Dois
A solução não podia esperar mais. Achei melhor não tomar nenhuma decisão sem ouvir as partes interessadas. Que destino deveria dar àqueles bichinhos de pelúcia cheirando a naftalina que habitavam a prateleira superior do guarda-roupa das crianças? Ambas as crianças já ultrapassaram a barreira dos 30 anos, para vocês terem uma idéia do tempo que seus fiéis amiguinhos ficaram, amontoados em sacos plásticos, fora de circulação. Mas por que será que a mãe das crianças conservou por tanto tempo os felpudinhos, mesmo sabendo que poderiam desencadear uma crise alérgica nas filhas, que não suportam poeira ou mofo? Seguramente por excesso de romantismo. Pode ter pensado que os netos (que nem sabe se virão) talvez gostassem de ter em mãos brinquedos com os quais suas mães brincaram (isto se não forem alérgicos também!). Ou talvez, quem sabe, guardar alguns objetos que fizeram parte da infância e pré-adolescência das filhotas seria uma forma de “aprisionar” aqueles momentos na sua memória, uma forma de pensar que elas não cresceram e que necessitam ainda de sua proteção para se livrar dos espinhos da vida. Freud explica? Pode ser! Mas não seria uma raridade no universo materno. Vai, corre lá e pergunta a sua mãe o que ela pensa a respeito.
Final da história? Guardei os bichinhos de pelúcia “por mais um tempo, até eu ver quais deles quero doar para uma instituição de caridade”, como pediu uma filha. E também fiz fotos deles, “pra guardar de lembrança”, como resolveu a outra filha, mais pragmática.
sexta-feira, julho 17
Trocando a tartaruga por uma lebre
Estou na moda. A moda agora é GVT. Ela chegou prometendo banda larga de alta velocidade, preços competitivos e vantagens na telefonia fixa. ‘Venha ser feliz com a GVT’. Eu apostei. Até quando a felicidade vai durar, isso é imprevisível. Muito provavelmente até a prestadora conseguir roubar uma boa parte da concorrente e dominar o mercado. Okay, enquanto o serviço não cai de qualidade, aproveitemos a 25...
domingo, julho 12
sexta-feira, julho 10
Como se não bastasse...
Miséria pouca é bobagem, diz a sabedoria popular. E não é que, depois de ficar incomunicável durante algum tempo graças à dança das prestadoras de telefonia e banda larga, quando enfim consigo me reconectar com o mundo, meu computador deu pau. Resultado: troca de fonte, reformatação e, claro, perda de alguns arquivos e contatos. Tudo novo de novo. Será que posso, finalmente, trabalhar em paz?
segunda-feira, julho 6
Mudança 2, a missão!
Voltei! Agora sem interrupções forçadas, assim espero. A nova vida começa a entrar num compasso quase ideal. Sacumé? Adagio ma non troppo. Começo a me habituar com a arrumação dos móveis e com os lugares onde enfiei aquela pasta, os documentos, ou a roupa de inverno. E já não tropeço à noite quando vou à cozinha buscar um copo d’ água sem acender as luzes. Bom começo, não?
Apartamento de primeira locação tem lá sua vantagens, está tudo novinho e sem a energia de antigos moradores, que, vamos combinar, nem sempre é positiva. O lado negativo é que a gente tem que colocar tudo, desde um simples cabidinho para pendurar as roupas na porta do banheiro até instalar máquina de lavar, pendurar cortinas, quadros e tudo o mais que facilita a vida e deixa o ambiente mais acolhedor. Além dessas coisas básicas, mandei instalar também chave tetra e olho mágico na porta de entrada, embora algumas pessoas tenham achado uma extravagância, já que o prédio tem porteiro vinte e quatro horas. Será? Ainda faltam acertar muitos detalhes, mas nessa brincadeira já gastei uma baba – vocês não fazem ideia de como a mão-de-obra para esses pequenos serviços está cara. Sempre que tenho que desembolsar a grana suada pra recompensar o trabalho pesado de fazer um buraquinho na parede e colocar uma bucha e um parafuso, penso nas disparidades salariais do nosso país, por exemplo, meio sarney valendo três vezes mais que um professor...
Apartamento de primeira locação tem lá sua vantagens, está tudo novinho e sem a energia de antigos moradores, que, vamos combinar, nem sempre é positiva. O lado negativo é que a gente tem que colocar tudo, desde um simples cabidinho para pendurar as roupas na porta do banheiro até instalar máquina de lavar, pendurar cortinas, quadros e tudo o mais que facilita a vida e deixa o ambiente mais acolhedor. Além dessas coisas básicas, mandei instalar também chave tetra e olho mágico na porta de entrada, embora algumas pessoas tenham achado uma extravagância, já que o prédio tem porteiro vinte e quatro horas. Será? Ainda faltam acertar muitos detalhes, mas nessa brincadeira já gastei uma baba – vocês não fazem ideia de como a mão-de-obra para esses pequenos serviços está cara. Sempre que tenho que desembolsar a grana suada pra recompensar o trabalho pesado de fazer um buraquinho na parede e colocar uma bucha e um parafuso, penso nas disparidades salariais do nosso país, por exemplo, meio sarney valendo três vezes mais que um professor...
quarta-feira, junho 24
Socorro, chamem os amadores!
Levei mais de um mês encaixotando toda a tralha que ia trazer para o apartamento. Não era uma tralha qualquer, era uma tralha acumulada em 30 anos de residência naquele lugar. E depois, não podia contar senão comigo mesma e com a ajuda limitada de minha empregada. Relacionei as quarenta e cinco caixas, cada qual com seu número e a informação sobre seu conteúdo. Identifiquei com um círculo verde aquelas que iriam para o apartamento e com um amarelo as que ficariam num depósito na casa de uma amiga. Quando o caminhão-baú chegou, expliquei ao dono que as cores não tinham nada a ver com a seleção brasileira de futebol, simplesmente deviam orientar a ordem de entrada das caixas no caminhão: as verdes em primeiro lugar e as amarelas em segundo, já que estas últimas seriam deixadas no depósito em primeiro lugar. Como ele garantiu que havia entendido, não me preocupei mais com isso. Quando chegamos ao local do primeiro desembarque é que percebi o amadorismo da empresa com não sei quantos anos de experiência: as caixas haviam sido misturadas e perdemos um tempo enorme para encontrar as ‘amarelinhas’ debaixo de estrados, colchões e outros quetais. Cadê a número 8? Está faltando a 16 também... Socorro! De que adiantou minha organização nota dez para profissionais nota zero?
Ah, esqueci de mencionar: o chefão tinha que desmontar uma única cama, a minha, o resto estava no ponto. O que aconteceu? Inacreditável, ele ‘esqueceu’ a caixa de ferramentas em casa... e ainda teve a coragem de achar ruim comigo porque machucou as mãos tendo que improvisar a tarefa com pregos. Dá pra ser feliz?
Ah, esqueci de mencionar: o chefão tinha que desmontar uma única cama, a minha, o resto estava no ponto. O que aconteceu? Inacreditável, ele ‘esqueceu’ a caixa de ferramentas em casa... e ainda teve a coragem de achar ruim comigo porque machucou as mãos tendo que improvisar a tarefa com pregos. Dá pra ser feliz?
terça-feira, junho 23
Oi! Simples assim!
Depois de dez séculos fora do ar, olha eu aqui de volta ao ciberespaço meio que capengando. Eu disse séculos? Pra quem fica plugada direto no mundo virtual, cada dia fora do ar parece mesmo um século. Foi muito difícil suportar essa ausência imposta pela incompetência da Oi/Telemar. Prestadora de meia tigela! onde já se viu levar DEZ dias pra transferir uma linha telefônica de um bairro pra outro na mesma cidade de Vitória? Vocês não têm ideia de quantos dias fiquei de plantão esperando que viesse um infeliz bater na minha porta e me dar a boa nova. Are baba! Veio num sábado de manhã. Minha alegria acabou, porém, em dois tempos: para fazer o velox funcionar, seria necessário esperar mais dois dias úteis... isso porque a comunicação é toda feita online, como vocês sabem, uma tecnologia ultra avançada: a atendente manda uma mensagem informando que o telefone foi ligado (anote o protocolo), o setor (ir)responsável repassa a mensagem para a central de velox, que manda uma ordem de serviço para o setor de contratação da empreiteira (ir)responsável, que programa o serviço de abrir o canal de acesso dentro de, no máximo, 48 horas (anote o protocolo). Simples assim! Tudo com a maior presteza. Afinal, sou uma cliente especial, que mantém com a empresa há alguns anos um plano Oi Total (fixo, banda larga, celular). Grrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr.... é insuportável ter que ouvir uma voz monocórdia do outro lado da linha argumentando ‘tenha calma, minha senhora, seu problema vai ser resolvido’, ‘não, minha senhora, minha supervisora não pode atender, está em reunião’, ‘algo mais, minha senhora? a Telemar agradece’...
Resumo da ópera: paciência tem limite! Estou migrando para uma nova prestadora.
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domingo, junho 7
Ainda no meio das caixas
Você conhece aquela piada do "só vim aqui avisar que não venho" ? Pois é isso mesmo que venho fazer aqui - dizer que esta semana não tem nem o habitual post dominical. Dá uma olhada aí ao lado. Parece em ordem, né? Aqui em casa não. Você ficaria com pena de mim se visse a confusão de caixas de papelão, grandes, médias, pequenas... estou na reta final da mudança. Está impossível encontrar as coisas menores. Agora mesmo revirei tudo atrás da conta do cartão de crédito que vence amanhã e quem disse que encontrei? Normal, né não? Conto com as boas vibrações dos meus amáveis leitores para que não aconteça mais nenhum contratempo. Sim, já aconteceram alguns, mas deixa pra lá. Vamos torcer pra que no próximo fim de semana, mesmo com o corpo maltratado, a mente possa produzir algo digno de papear com vocês. E, claro, já debaixo do novo teto. Até lá.
domingo, maio 31
Em terra de cego...
Em matéria de cinema, estou sempre atrasada. Só hoje consegui ver o Ensaio sobre a Cegueira, do premiadíssimo Fernando Meirelles. Elogiado por alguns, detonado por outros, o filme, na minha modesta opinião de espectadora comum, é, ao mesmo tempo, aterrador e tocante. Apostando numa linguagem simples e direta, mantém o ritmo na medida certa e prende a atenção do começo ao fim. Ao propor a discussão de uma temática tão contundente, Meirelles encontra soluções técnicas que aliviam a tensão, sem, contudo, afrouxar o discurso. Não li o texto de Saramago, por isso não posso avaliar se houve no filme um desvio maior do que a licença poética permite. Mas a julgar pelos comentários elogiosos do Nobel português à obra do diretor brasileiro, não houve exageros. Com a bela metáfora da cegueira, Meireles/Saramago expõe as vísceras dos seres ditos humanos, mostrando o nível de degradação a que chegaram (chegamos). Enfim, endosso o comentário feito por uma blogueira que não conheço, Denise, que disse que o filme de Meirelles “nos obriga a parar, fechar os olhos e ver. Recuperar a lucidez, resgatar o afeto”. Adorei o filme e o comentário!
sábado, maio 30
PERDAS E BÔNUS
Dentre as manias que eu tenho/Uma é gostar de você/Mania é coisa que a gente tem/Mas não sabe por que/ Mania de querer bem/Mania de falar mal/Mania de não dormir/Sem antes ler o jornal... e por aí vai. Assim começa o samba-canção Manias, de Flávio Cavalcanti, gravado e regravado com muito sucesso se não me engano lá pelo fim da década de 50. Você tem alguma mania? Claro que sim. Disfarçada ou escancarada, não há quem não tenha a sua. Hoje me dei conta que cultivo uma que não estava ainda na minha lista. Mas é uma maniazinha boa, que não faz mal a ninguém. Folheando um livro ao acaso, encontrei um cartãozinho carinhoso recebido no Natal de 1999. Lá pelas tantas a mensagem dizia: “ter você como amiga é ter vários natais no ano”. Muito lindo, não é? Deu pra perceber qual é a mania de que estou falando? Isso mesmo, é a de guardar cartões, bilhetinhos, postais e coisas do gênero. Manifestações de carinho que alimentam o espírito e nos fazem olhar a vida com mais otimismo. Coleciono essas mensagens assim, sem guardá-las num lugar definido, por isso de vez em quando topo com alguma delas na bagunça organizada do meu escritório. Você nem imagina como é bom recuperar na memória sensorial o momento que gerou aquelas palavras e, mais ainda, a pessoa que as escreveu! Mesmo que o amigo/amiga tenha sumido na poeira das ruas, trazer de volta sua lembrança é uma sensação incrível. Já reparou como nos perdemos de pessoas que amamos assim sem mais nem menos, apenas porque elas mudam de bairro ou cidade, descobrem novos interesses que nos excluem, ou simplesmente se casam, caem na rotina doméstica e sem querer se afastam? Mas não é sobre os que se perdem que quero falar, e sim sobre os que reencontramos. Aconteceu comigo. Mais de uma vez. Aqui mesmo na internet. Tal como o cartãozinho, o postal ou coisa que o valha, receber inesperadamente uma mensagem de um velho conhecido é como encontrar uma nota de cinqüenta esquecida no bolso de um casaco. Foi essa alegria infantil que experimentei semana passada quando vi meu orkut ser invadido por mensagens inesperadas. Escrevi de volta pra me certificar de que não era nenhuma clonagem. Não era. Felizmente, porque veio muita coisa bonita. Como esse poema instigante aí de baixo, que não resisto a repartir com você. Bem-vindo, amigo.
ALENTO*
Aspira este momento
Que te dá novo alento.
Cada dia é uma vida
Inteira, resumida.
Já não têm conta as horas
Tanto a viver demoras,
Tanto, dia após dia,
Tua morte se adia.
Já viveste outras vidas,
E só não te suicidas
Por um banal motivo:
A idéia de estar vivo!
E te curvas atento
Às regras do convento:
Quando tiveres fome
Curva-te à regra: come.
Se tens sono, há uma cama.
Se tens desejo, ama.
Muito mais que prazeres
Tudo aqui são deveres.
Andar, comer, beber,
Amar, tudo é viver;
Até mesmo dormir
É viver sem sentir.
Viver é um ir-se embora
Da vida, hora após hora...
Aspira este momento
Que te dá tanto alento!
*Dante Milano, em "Poesia e Prosa".
Organização de Virgílio Costa.
Coleção "Vária"; Núcleo Editorial da UERJ.
Editora Civilização Brasileira (RJ) - 1979.
ALENTO*
Aspira este momento
Que te dá novo alento.
Cada dia é uma vida
Inteira, resumida.
Já não têm conta as horas
Tanto a viver demoras,
Tanto, dia após dia,
Tua morte se adia.
Já viveste outras vidas,
E só não te suicidas
Por um banal motivo:
A idéia de estar vivo!
E te curvas atento
Às regras do convento:
Quando tiveres fome
Curva-te à regra: come.
Se tens sono, há uma cama.
Se tens desejo, ama.
Muito mais que prazeres
Tudo aqui são deveres.
Andar, comer, beber,
Amar, tudo é viver;
Até mesmo dormir
É viver sem sentir.
Viver é um ir-se embora
Da vida, hora após hora...
Aspira este momento
Que te dá tanto alento!
*Dante Milano, em "Poesia e Prosa".
Organização de Virgílio Costa.
Coleção "Vária"; Núcleo Editorial da UERJ.
Editora Civilização Brasileira (RJ) - 1979.
domingo, maio 24
E o respeito pelo esforço?
Outro dia vi Diego Hipólito fazendo um desabafo na tevê depois de sua vitória dupla na etapa de Glasgow da Copa do Mundo. Ele foi medalha de ouro na ginástica de solo e no salto, no entanto, está há oito meses sem receber salário. Qualquer país teria orgulho de seu medalhista e faria de tudo para que ele mantivesse essa posição, mas não os dirigentes da ginástica olímpica brasileira, disse Hipólito. Para que tanto esforço, se não sou reconhecido como atleta? Eu vivo disso, como eles acham que é possível sobreviver sem salário? Foram essas as perguntas que o ginasta deixou no ar, visivelmente contrariado.
A imagem me voltou à mente hoje, ao ler os comentários sobre o grande prêmio de Mônaco da Fórmula Um. A opinião pública brasileira não perdoa os atletas perdedores. É assim com todos os esportes. Diego Hipólito vem sendo desprezado depois que teve um desempenho aquém das expectativas nas Olimpíadas de Pequim. E Rubens Barrichelo, na minha opinião, é um dos desportistas mais injustiçados de todos os tempos. Desde o início da sua carreira, os órgãos de imprensa despejaram sobre ele as frustrações por ele não ter repetido o sucesso de Senna. Ninguém agüentou tanto deboche, e com tanta dignidade, como ele. Até de ‘pé de chinelo’ foi apelidado, tendo virado pesongem caricata nos programas humorísticos da Globo.
Entre os esportes praticados por Hipólito e Barrichelo, há uma distância enorme. No primeiro, o atleta só depende do seu desempenho, enquanto no segundo, além da habilidade do piloto, estão também em jogo os milhões de dólares envolvidos nas marcas, as escolhas das escuderias sobre quem deve vencer, os problemas mecânicos e o rendimento dos carros, as condições meteorológicas, os pneus, a sorte. Barrichelo mudou de marca, conseguiu um carro que rende mais, tem conseguido vitórias,(ainda tímidas, é verdade) e nessa temporada já subiu no pódio cinco vezes. E a imprensa continua ignorando seu esforço, quando não o desqualifica. Dá mais destaque aos iniciantes brasileiros Nelson Piquet e Filipe Massa, enquanto o inglês Jenson Button, companheiro de Rubinho na Brawn e 1º lugar no ranking, é colocado mais alto ainda do que o lugar que ele ocupa no pódio. Acho mesmo que Rubinho dificilmente vai obter reconhecimento. Mas o pessoal da imprensa podia pegar mais leve de vez em quando. Fiquei indignada quando li esta tarde no blog do repórter esportivo Juca Kfuri o post aí de baixo.
Hoje é o Dia da Tartaruga.
E do aniversário de Rubens Barrichelo, que completa 37 anos.
A piada é tão pronta que não custa lembrar: ele chegou em segundo lugar no GP de Mônaco hoje.
Felipe Massa, por exemplo, foi o quarto....
Lamentável! Acelera, Rubinho. E cala a boca dessa gente.
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sábado, maio 23
Porque hoje é sábado
Foto roubada na página da PMV
Não pude evitar uma sensação de tristeza enquanto caminhava. Entra prefeito, sai prefeito, e o blablá em torno do projeto de revitalização do centro continua no papel. De boas intenções o inferno anda cheio, diz o ditado. As tímidas intervenções governamentais não foram suficientes para evitar a decadência, e o centro permanece abandonado a sua própria sorte.
Sou do tempo em que as meninas de boa família podiam circular em segurança pelas ruas da cidade, em especial no circuito praça Oito−Costa Pereira, onde todo mundo se encontrava. Minha identidade de capixaba da gema está marcada por muitas idas e vindas pelas ruas da capital. Como moradora do centro, tudo ficava a poucos passos da minha casa: a escola, a catedral, o clube, a sorveteria e a lanchonete da moda, o instituto de línguas, a única livraria, o comércio chique... Peraí, não vou deixar o saudosismo tomar conta deste post.
(Mas que mal há em remexer o baú e tirar dele boas lembranças? )
De volta à realidade, só queria ressaltar o lado bom da minha “aventura” de hoje no centro da cidade. Longe do ambiente asséptico dos shoppings centers, caminhando entre as pessoas que esperavam nos pontos de ônibus, examinavam mercadorias no interior das lojas ou simplesmente iam a algum lugar, me senti um semelhante, me senti povo, como todos. E ao recobrar essa dimensão do humano, em geral apagada no cotidiano, mentalmente me solidarizei com essas criaturas e, por alguns instantes, fui feliz.
Esta manhã tomei uma decisão corajosa: ir ao centro da cidade fazer pesquisa de preços numa loja bem popular − Casas Bahia. Viram onde a crise faz a gente ir, na esperança de economizar alguns tostões? Como não sabia onde ficava a loja, que é recente no Estado, atravessei toda a avenida Jerônimo Monteiro, fiz o retorno perto da Florentino Avidos e estacionei atrás do relógio da Praça Oito, a poucos passos dela. As surpresas começaram já no início desse trajeto. Acreditem, ao contrário do que supunha, havia um trânsito intenso! Esperava encontrar uns gatos pingados, mas decididamente não fui a única a ter a brilhante idéia de ir ao centro nesta manhã. Só depois me lembrei que, aos sábados, é permitido o estacionamento de veículos ao longo da Jerônimo Monteiro e da Princesa Isabel, daí o congestionamento inesperado. Bem, não encontrei exatamente o que queria, mas, com alguma tranqüilidade, atravessei o camelódromo da Praça Oito e fui dar uma conferida nas novidades da Marisa.
Não pude evitar uma sensação de tristeza enquanto caminhava. Entra prefeito, sai prefeito, e o blablá em torno do projeto de revitalização do centro continua no papel. De boas intenções o inferno anda cheio, diz o ditado. As tímidas intervenções governamentais não foram suficientes para evitar a decadência, e o centro permanece abandonado a sua própria sorte.
Sou do tempo em que as meninas de boa família podiam circular em segurança pelas ruas da cidade, em especial no circuito praça Oito−Costa Pereira, onde todo mundo se encontrava. Minha identidade de capixaba da gema está marcada por muitas idas e vindas pelas ruas da capital. Como moradora do centro, tudo ficava a poucos passos da minha casa: a escola, a catedral, o clube, a sorveteria e a lanchonete da moda, o instituto de línguas, a única livraria, o comércio chique... Peraí, não vou deixar o saudosismo tomar conta deste post.
(Mas que mal há em remexer o baú e tirar dele boas lembranças? )
De volta à realidade, só queria ressaltar o lado bom da minha “aventura” de hoje no centro da cidade. Longe do ambiente asséptico dos shoppings centers, caminhando entre as pessoas que esperavam nos pontos de ônibus, examinavam mercadorias no interior das lojas ou simplesmente iam a algum lugar, me senti um semelhante, me senti povo, como todos. E ao recobrar essa dimensão do humano, em geral apagada no cotidiano, mentalmente me solidarizei com essas criaturas e, por alguns instantes, fui feliz.
sexta-feira, maio 15
Enfim, um movimento bem-humorado
Foto roubada do Terra
Aconteceu hoje no Rio a primeira manifestação promovida pelo movimento dos SEM NAMORADOS. É isso mesmo, uma galera que está cansada de homens que não querem assumir nenhum compromisso (reclamam elas) ou de mulheres interesseiras que só estão de olho na conta bancária (dizem eles) promoveu a passeata. O movimento começou nas conversas da internet e tem como meta conquistar de imediato um parceiro/a para comemorar em grande estilo o Dia dos Namorados no início do mês que vem. Legal, né? Os contestadores, cerca de 200 pessoas, agitaram a Cinelândia, no centro do Rio, e neste domingo um grupo faz reunião semelhante no Ibirapuera, em Sampa. Hummm, achei a idéia de-mais. E estou torcendo pra que uma turminha corajosa comece a agitação também em Vitória. Ou será que por aqui os gatos e gatas disponíveis estão satisfeitos com o comportamento do sexo oposto?
P.S. As adesões ao movimento podem ser feitas na página: www.movimentodossemnamorados.com.br
P.S. 2 : Ah, não esqueçam de me convidar!
Aconteceu hoje no Rio a primeira manifestação promovida pelo movimento dos SEM NAMORADOS. É isso mesmo, uma galera que está cansada de homens que não querem assumir nenhum compromisso (reclamam elas) ou de mulheres interesseiras que só estão de olho na conta bancária (dizem eles) promoveu a passeata. O movimento começou nas conversas da internet e tem como meta conquistar de imediato um parceiro/a para comemorar em grande estilo o Dia dos Namorados no início do mês que vem. Legal, né? Os contestadores, cerca de 200 pessoas, agitaram a Cinelândia, no centro do Rio, e neste domingo um grupo faz reunião semelhante no Ibirapuera, em Sampa. Hummm, achei a idéia de-mais. E estou torcendo pra que uma turminha corajosa comece a agitação também em Vitória. Ou será que por aqui os gatos e gatas disponíveis estão satisfeitos com o comportamento do sexo oposto?
P.S. As adesões ao movimento podem ser feitas na página: www.movimentodossemnamorados.com.br
P.S. 2 : Ah, não esqueçam de me convidar!
quinta-feira, maio 14
Participe da campanha
Que pretensão a minha comparar-me a Sherazade, a contadora de histórias que encantou o sheik. Quem me acompanha já percebeu que não estou escrevendo todo dia, como havia me proposto a fazer. Mas a meu favor cito o fato de que ela, a princesa, estava numa situação limite, na qual, para se safar, ou contava uma história ou contava outra história. Fe-liz-men-te esse não é o meu caso. Minha tentativa tem a ver não com a expectativa da morte, mas com o prazer da escrita e a necessidade de conversar com o mundo. Acontece que nem sempre as coisas caminham como a gente quer. Aliás, acho mesmo que, se a esperta princesa tivesse que exercitar seu processo criativo à frente da tela branca de um computador, talvez fosse traída pela falta de ‘inspiração’ em algum momento. Escrever é bem diferente de verbalizar oralmente narrativas inventadas num registro dramático e persuasivo. Não posso admitir publicamente que escrever não é uma atividade fácil nem automática. Afinal, ganho a vida fazendo meus alunos acreditarem exatamente o contrário. Mas tenho que confessar que escrever diariamente, sem ser profissional da escrita (jornalista, escritor, publicitário), é um exercício de paciência, que requer, primeiro, encontrar o mote, depois as idéias e, por fim, as palavras justas. Simples assim... hahahahah (que meus alunos não me leiam, se não, estou perdida). E para isso tenho que dedicar algum tempo diariamente, coisa que, como todos sabem, está cada dia mais escasso. Sei que é aborrecido seguir um blog e não encontrar um post novo a cada dia. Eu, pelo menos, fico frustrada quando vejo meus blogs favoritos desatualizados. Mas reconheço, humildemente, que não vou dar conta de postar novidades todos os dias. Por isso, paciente leitor, me dê um credito de confiança. Por que você não me sugere algum tema que não quer calar, como fez a Sarah outro dia? Parcerias são sempre bem-vindas. Está aberta a campanha “Ajude a manter este blog atualizado”. Te aguardo.
domingo, maio 10
Sarah, olha aí.
Sempre tive uma certa implicância com esse hábito de festejar a mãe num dia especial. Engrosso a fileira daqueles que defendem a posição de que as mães devem ser reverenciadas todos os dias. Não estou falando de uma pieguice cega, com sabor de obrigação, mas de um sentimento espontâneo de reconhecimento e retribuição ao amor incondicional dessas mulheres, capazes de qualquer sacrifício para que suas crias se tornem pessoas saudáveis, felizes, responsáveis e dotadas de mil outras virtudes que as distingam das criaturas comuns. Sim, porque aos olhos de toda mãe, não há nada mais especial que suas criaturas. E mesmo depois de adulto, por mais que a roda viva carregue esse filho pra lá, ele será sempre lembrado como o ser frágil que ela teve nos braços e que ainda necessita dos seus cuidados para enfrentar a vida. Claro, estou falando da posição de mãe, mas quando somos apenas filhos, não temos essa visão grandiosa do amor materno. A ficha só cai de fato quando mudamos de lado, acho eu. Também já fui filha: filha criança, filha adolescente, filha adulta. Sempre inquieta e rebelde. E também seduzida pelo apelo comercial. A cada segundo domingo de maio, lá ia eu levando o “presentinho”, em geral escolhido em função do que havia conseguido poupar no apertado orçamento doméstico, certa de estar cumprindo meu dever de filha, imaginem. Só muito tempo depois é que entendi que presentes não têm a menor importância. Quero dizer, adoro ganhar presentes quando são escolhidos com carinho, embrulhados com capricho e vontade de agradar. Mas não é bem isso que espero ganhar no dia das mães das minhas filhas. Será que elas já entenderam isso? Ou vou ter que esperar que elas também sejam mães para que isso aconteça?
quinta-feira, maio 7
Um pouco mais de calma
Esta foi uma semana de muita correria. Não bastassem todas as tarefas, ainda andei atrás de apartamento o tempo todo. Olha anúncio no jornal, telefona pra imobiliária, pesquisa os preços, vai lá, pega as chaves, olha o imóvel, sente a sua energia, conversa com o porteiro, investiga se é uma rua tranqüila, volta, devolve as chaves, liga pra outra imobiliária... Ufa! pernas pra que te quero... só quem já passou por essa experiência é que sabe.
Vai daí que comecei a pensar a respeito do que essa cabeça a mil nesse corpo cansado poderia postar esta noite. Ato contínuo, ouvi Lenine cantando daquele jeito doce e, ao mesmo tempo incisivo, uma canção de sua autoria e de Dudu Falcão de que gosto muito e que tem o sugestivo nome de Paciência. Não, não tinha nenhum rádio nem som ligado: ouvi Lenine cantando dentro da minha cabeça, acredita? Direto e reto, sem rodeios. Fechei os olhos e pisei no freio. Obrigada, Lenine. Pra quem não conhece ou não se lembra da letra, reproduzo aí embaixo. Com a recomendação de não perderem a paciência, que às vezes a vida exige um pouco mais de calma. Até a próxima.
Paciência
Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
A vida não pára...
Enquanto o tempo
Acelera e pede pressa
Eu me recuso faço hora
Vou na valsa
A vida é tão rara...
Enquanto todo mundo
Espera a cura do mal
E a loucura finge
Que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência...
O mundo vai girando
Cada vez mais veloz
A gente espera do mundo
E o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência...
Será que é tempo
Que lhe falta pra perceber?
Será que temos esse tempo
Pra perder?
E quem quer saber?
A vida é tão rara
Tão rara...
Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não pára
A vida não pára não...
Será que é tempo
Que lhe falta pra perceber?
Será que temos esse tempo
Pra perder?
E quem quer saber?
A vida é tão rara
Tão rara...
Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
Eu sei, a vida é tão rara
A vida não pára não...
A vida não pára!...
A vida é tão rara!...
Vai daí que comecei a pensar a respeito do que essa cabeça a mil nesse corpo cansado poderia postar esta noite. Ato contínuo, ouvi Lenine cantando daquele jeito doce e, ao mesmo tempo incisivo, uma canção de sua autoria e de Dudu Falcão de que gosto muito e que tem o sugestivo nome de Paciência. Não, não tinha nenhum rádio nem som ligado: ouvi Lenine cantando dentro da minha cabeça, acredita? Direto e reto, sem rodeios. Fechei os olhos e pisei no freio. Obrigada, Lenine. Pra quem não conhece ou não se lembra da letra, reproduzo aí embaixo. Com a recomendação de não perderem a paciência, que às vezes a vida exige um pouco mais de calma. Até a próxima.
Paciência
Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
A vida não pára...
Enquanto o tempo
Acelera e pede pressa
Eu me recuso faço hora
Vou na valsa
A vida é tão rara...
Enquanto todo mundo
Espera a cura do mal
E a loucura finge
Que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência...
O mundo vai girando
Cada vez mais veloz
A gente espera do mundo
E o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência...
Será que é tempo
Que lhe falta pra perceber?
Será que temos esse tempo
Pra perder?
E quem quer saber?
A vida é tão rara
Tão rara...
Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não pára
A vida não pára não...
Será que é tempo
Que lhe falta pra perceber?
Será que temos esse tempo
Pra perder?
E quem quer saber?
A vida é tão rara
Tão rara...
Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
Eu sei, a vida é tão rara
A vida não pára não...
A vida não pára!...
A vida é tão rara!...
terça-feira, maio 5
Ah, a vida!
Pra não passar em brancas nuvens,
vamos de Clarice Lispector refletindo sobre o imponderável da vida:
Renda-se, como eu me rendi
Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei.
Não se preocupe em entender,
viver ultrapassa qualquer entendimento...
vamos de Clarice Lispector refletindo sobre o imponderável da vida:
Renda-se, como eu me rendi
Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei.
Não se preocupe em entender,
viver ultrapassa qualquer entendimento...
segunda-feira, maio 4
Você trabalha. Confia?
Não é por nada não, mas você confia na palavra do Governo quando ele diz
que o Brasil está preparado para enfrentar a chegada da gripe suína ou
seja lá qual for o apelido que lhe deram? Perguntar não ofende. Conhecemos
os serviços de saúde públicos e temos razões de sobra pra desconfiar.
Façamos um paralelo com a dengue, que entra ano sai ano continua eliminando
centenas de brasileiros pelas sua complicações. Este ano,apenas no
Espírito Santo já foram notificados cerca de 30 mil casos de dengue,
com 35 casos de morte, dos quais 18 confirmados de serem motivados pelas
complicações da doença. Vamos torcer para que a tal da suína fique do lado
de lá da fronteira. Só bravata não basta.
que o Brasil está preparado para enfrentar a chegada da gripe suína ou
seja lá qual for o apelido que lhe deram? Perguntar não ofende. Conhecemos
os serviços de saúde públicos e temos razões de sobra pra desconfiar.
Façamos um paralelo com a dengue, que entra ano sai ano continua eliminando
centenas de brasileiros pelas sua complicações. Este ano,apenas no
Espírito Santo já foram notificados cerca de 30 mil casos de dengue,
com 35 casos de morte, dos quais 18 confirmados de serem motivados pelas
complicações da doença. Vamos torcer para que a tal da suína fique do lado
de lá da fronteira. Só bravata não basta.
domingo, maio 3
Um pouco de Neruda em italiano
Ode al giorno felice
Questa volta lasciatemi essere felice
A nessuno è successo niente
Accade solamente che sono felice
In tutti i punti del cuore
Mentre cammino, dormo o scrivo.
Sono felice dell’erba nelle praterie,
Sento la pelle come un albero
E l’acqua sotto
E gli uccelli in alto,
Il mare come un anello alla mia cintura
E l’aria canta come una chitarra.
È come se toccassi la pelle azzurra del cielo
E la sua freschezza.
Oggi lasciate che io sia felice,
Felice con l’erba e la sabbia,
Felice con l’aria e la terra
Felice.
(Pablo Neruda)
sábado, maio 2
Porque hoje é sábado
É de Vinicius de Moraes o provocativo poema a seguir.
O dia da criação
I
Hoje é sábado, amanhã é domingo
A vida vem em ondas, como o mar
Os bondes andam em cima dos trilhos
E Nosso Senhor Jesus Cristo morreu na cruz para nos salvar.
Hoje é sábado, amanhã é domingo
Não há nada como o tempo para passar
Foi muita bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo
Mas por via das dúvidas livrai-nos meu Deus de todo mal.
Hoje é sábado, amanhã é domingo
Amanhã não gosta de ver ninguém bem
Hoje é que é o dia do presente
O dia é sábado.
Impossível fugir a essa dura realidade
Neste momento todos os bares estão repletos de homens vazios
Todos os namorados estão de mãos entrelaçadas
Todos os maridos estão funcionando regularmente
Todas as mulheres estão atentas
Porque hoje é sábado.
II
Neste momento há um casamento
Porque hoje é sábado
Hoje há um divórcio e um violamento
Porque hoje é sábado
Há um rico que se mata
Porque hoje é sábado
Há um incesto e uma regata
Porque hoje é sábado
Há um espetáculo de gala
Porque hoje é sábado
Há uma mulher que apanha e cala
Porque hoje é sábado
Há um renovar-se de esperanças
Porque hoje é sábado
Há uma profunda discordância
Porque hoje é sábado
Há um sedutor que tomba morto
Porque hoje é sábado
Há um grande espírito-de-porco
Porque hoje é sábado
Há uma mulher que vira homem
Porque hoje é sábado
Há criançinhas que não comem
Porque hoje é sábado
Há um piquenique de políticos
Porque hoje é sábado
Há um grande acréscimo de sífilis
Porque hoje é sábado
Há um ariano e uma mulata
Porque hoje é sábado
Há uma tensão inusitada
Porque hoje é sábado
Há adolescências seminuas
Porque hoje é sábado
Há um vampiro pelas ruas
Porque hoje é sábado
Há um grande aumento no consumo
Porque hoje é sábado
Há um noivo louco de ciúmes
Porque hoje é sábado
Há um garden-party na cadeia
Porque hoje é sábado
Há uma impassível lua cheia
Porque hoje é sábado
Há damas de todas as classes
Porque hoje é sábado
Umas difíceis, outras fáceis
Porque hoje é sábado
Há um beber e um dar sem conta
Porque hoje é sábado
Há uma infeliz que vai de tonta
Porque hoje é sábado
Há um padre passeando à paisana
Porque hoje é sábado
Há um frenesi de dar banana
Porque hoje é sábado
Há a sensação angustiante
Porque hoje é sábado
De uma mulher dentro de um homem
Porque hoje é sábado
Há uma comemoração fantástica
Porque hoje é sábado
Da primeira cirurgia plástica
Porque hoje é sábado
E dando os trâmites por findos
Porque hoje é sábado
Há a perspectiva do domingo
Porque hoje é sábado.
O dia da criação
I
Hoje é sábado, amanhã é domingo
A vida vem em ondas, como o mar
Os bondes andam em cima dos trilhos
E Nosso Senhor Jesus Cristo morreu na cruz para nos salvar.
Hoje é sábado, amanhã é domingo
Não há nada como o tempo para passar
Foi muita bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo
Mas por via das dúvidas livrai-nos meu Deus de todo mal.
Hoje é sábado, amanhã é domingo
Amanhã não gosta de ver ninguém bem
Hoje é que é o dia do presente
O dia é sábado.
Impossível fugir a essa dura realidade
Neste momento todos os bares estão repletos de homens vazios
Todos os namorados estão de mãos entrelaçadas
Todos os maridos estão funcionando regularmente
Todas as mulheres estão atentas
Porque hoje é sábado.
II
Neste momento há um casamento
Porque hoje é sábado
Hoje há um divórcio e um violamento
Porque hoje é sábado
Há um rico que se mata
Porque hoje é sábado
Há um incesto e uma regata
Porque hoje é sábado
Há um espetáculo de gala
Porque hoje é sábado
Há uma mulher que apanha e cala
Porque hoje é sábado
Há um renovar-se de esperanças
Porque hoje é sábado
Há uma profunda discordância
Porque hoje é sábado
Há um sedutor que tomba morto
Porque hoje é sábado
Há um grande espírito-de-porco
Porque hoje é sábado
Há uma mulher que vira homem
Porque hoje é sábado
Há criançinhas que não comem
Porque hoje é sábado
Há um piquenique de políticos
Porque hoje é sábado
Há um grande acréscimo de sífilis
Porque hoje é sábado
Há um ariano e uma mulata
Porque hoje é sábado
Há uma tensão inusitada
Porque hoje é sábado
Há adolescências seminuas
Porque hoje é sábado
Há um vampiro pelas ruas
Porque hoje é sábado
Há um grande aumento no consumo
Porque hoje é sábado
Há um noivo louco de ciúmes
Porque hoje é sábado
Há um garden-party na cadeia
Porque hoje é sábado
Há uma impassível lua cheia
Porque hoje é sábado
Há damas de todas as classes
Porque hoje é sábado
Umas difíceis, outras fáceis
Porque hoje é sábado
Há um beber e um dar sem conta
Porque hoje é sábado
Há uma infeliz que vai de tonta
Porque hoje é sábado
Há um padre passeando à paisana
Porque hoje é sábado
Há um frenesi de dar banana
Porque hoje é sábado
Há a sensação angustiante
Porque hoje é sábado
De uma mulher dentro de um homem
Porque hoje é sábado
Há uma comemoração fantástica
Porque hoje é sábado
Da primeira cirurgia plástica
Porque hoje é sábado
E dando os trâmites por findos
Porque hoje é sábado
Há a perspectiva do domingo
Porque hoje é sábado.
sexta-feira, maio 1
Banana com canela
Então, identificou de cara o objeto ao lado da xícara de café? Será isso mesmo que você está pensando? Se está em dúvida, esclareço: é um abridor de frascos. Talvez você ache estranho, porque abrir frascos, pra você que está em pleno vigor físico, não chega a ser um problema. Mas pergunte a qualquer mulher que já ultrapassou a barreira dos cinco ponto zero se ela é capaz de abrir um vidro de palmitos numa boa. Se ela não for mentirosa, vai admitir que a abertura de frascos que necessitam de uma forcinha a mais para romper o lacre da tampa vai ficando mais difícil à proporção que os anos avançam. Mas basta fixar a tampa com o abridor da foto, girar a embalagem com a outra mão e... pronto, aberta com o mínimo de esforço. Viu só? Pensava nessa maravilha de invenção esta tarde enquanto tentava abrir um frasco novo de canela em pó. Você alguma vez enfrentou esse desafio? Que design mais antigo, né não? Se fosse só feio, tudo bem, mas ainda por cima machuca a mão. Com o abridor tabajara, meus problemas acabaram. Pude comer minha banana da terra frita com canela. Tranqüila, tranqüila.
Ah, ia esquecendo de dizer que a útil ferramenta originalmente foi inventada para quebrar nozes. Mas nozes in natura só aparecem na nossa mesa (quando aparecem) nos dias de Natal. Então dei a ela uma nova utilidade para os outros 364 dias do ano. Ou você acha que algum inventor está preocupado com as dificuldades motoras de uma senhora de mais de 50 (bem mais!) que mora sozinha, hein?
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