quarta-feira, outubro 28

Eu tuíto, você tuíta, nós tuitamos

Quando você abre o computador e vai direto pro twitter antes de checar os emails, aí, então, o vício ta começando a ficar sério. Essa eu ouvi, digo, li outro dia no próprio, o programa sensação do momento, onde participam gente de toda espécie - celebridades, políticos, jornalistas, apresentadores de tv, humoristas, artistas e pessoas comuns. Uma verdadeira febre, que tende a aumentar com as campanhas políticas. Também estou por lá, acompanhando o tom da política e da pouca vergonha de suas personagens. Mas me cuidando pra não me deixar contaminar por aquele vírus. Fico de fora observando a fogueira de vaidades, que ali se manifesta na declaração de quantos seguidores alguém conquistou ou na autopromoção com base nas retuitadas. Falando sério: estou mais preocupada com qualidade do que com quantidade, além de não ter tempo pra desperdiçar com bobagens em excesso. Por outro lado, acho um bom exercício dizer coisas inteligentes rapidamente em 140 caracteres. Lembrando sempre que em boca fechada não entra mosca. É isso.

domingo, outubro 18

ZAP, ZAP...





Outro dia, numa dessas leituras exploratórias em busca de algum texto que pudesse estimular o interesse mais imediato de meus alunos, encontrei um conto de Moacyr Scliar muito bem escrito e, de quebra, pungente, que acabou provocando algumas reflexões sobre minha relação com a televisão. O conto se chama Zap e relata o hábito de um pré-adolescente de ficar mudando constantemente de canal. A cada propaganda que não interessa, a cada programa maçante, novela enfadonha ou não, desenho repetido pela centésima vez no ano, ele vai mudando de canal, tentando encontrar algo que corresponda à sua expectativa no momento. O menino não é o único amigo íntimo do controle remoto da TV, como se sabe. Tanto que se criou o verbo zapear, de uso comum nas conversas sobre programas televisivos. Confesso que me vi na figura do menino. Vejo pouco televisão e, quando vejo, estou sempre zapeando. Não tenho muita paciência para reality show, games, assistencialismos que rendem muitas lágrimas e alta audiência, apresentadores que não falam mais que os entrevistados e apresentadoras louras (já perceberam que são todas louras?). Mas há coisas interessantes, basta saber procurar, me dizem amigos e parentes. É bem provável que sim, admito que eu é que não sou muito paciente. Além disso minhas opções resumem-se aos canais abertos, não tenho assinatura dos pagos porque o número de vezes que me sentaria diante da tela não compensaria o preço cobrado. Não pensem, porém, que minha antipatia por esse veículo chega às raias da intolerância. Não, até que gosto de sintonizar os jornais na hora do almoço. São um santo remédio: depois de comer, é só esticar o corpo no sofá da sala e fechar os olhos. Não há soneca melhor e mais revigorante. Com sorte, acordo em tempo de ouvir o convite dos apresentadores para o dia seguinte.

quinta-feira, outubro 15

Do you know Manoel de Barros?

Um pouco da poesia reinventada de Manoel de Barros nesta noite quente de primavera.

Escrever nem uma coisa Nem outra -
A fim de dizer todas
Ou, pelo menos, nenhumas.
Assim,
Ao poeta faz bem
Desexplicar -
Tanto quanto escurecer acende os vaga-lumes.

domingo, outubro 4

Tem que morrer pra germinar

E porque hoje é domingo, aí vai uma crônica de Paulo Mendes Campos, uma de suas melhores, aliás. Vale a pena gastar alguns segundos na leitura.

O Amor Acaba

O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas; na acidez da aurora tropical, depois duma noite votada à alegria póstuma, que não veio; e acaba o amor no desenlace das mãos no cinema, como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão; como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado; na insônia dos braços luminosos do relógio; e acaba o amor nas sorveterias diante do colorido iceberg, entre frisos de alumínio e espelhos monótonos; e no olhar do cavaleiro errante que passou pela pensão; às vezes acaba o amor nos braços torturados de Jesus, filho crucificado de todas as mulheres; mecanicamente, no elevador, como se lhe faltasse energia; no andar diferente da irmã dentro de casa o amor pode acabar; na epifania da pretensão ridícula dos bigodes; nas ligas, nas cintas, nos brincos e nas silabadas femininas; quando a alma se habitua às províncias empoeiradas da Ásia, onde o amor pode ser outra coisa, o amor pode acabar; na compulsão da simplicidade simplesmente; no sábado, depois de três goles mornos de gim à beira da piscina; no filho tantas vezes semeado, às vezes vingado por alguns dias, mas que não floresceu, abrindo parágrafos de ódio inexplicável entre o pólen e o gineceu de duas flores; em apartamentos refrigerados, atapetados, aturdidos de delicadezas, onde há mais encanto que desejo; e o amor acaba na poeira que vertem os crepúsculos, caindo imperceptível no beijo de ir e vir; em salas esmaltadas com sangue, suor e desespero; nos roteiros do tédio para o tédio, na barca, no trem, no ônibus, ida e volta de nada para nada; em cavernas de sala e quarto conjugados o amor se eriça e acaba; no inferno o amor não começa; na usura o amor se dissolve; em Brasília o amor pode virar pó; no Rio, frivolidade; em Belo Horizonte, remorso; em São Paulo, dinheiro; uma carta que chegou depois, o amor acaba; uma carta que chegou antes, e o amor acaba; na descontrolada fantasia da libido; às vezes acaba na mesma música que começou, com o mesmo drinque, diante dos mesmos cisnes; e muitas vezes acaba em ouro e diamante, dispersado entre astros; e acaba nas encruzilhadas de Paris, Londres, Nova Iorque; no coração que se dilata e quebra, e o médico sentencia imprestável para o amor; e acaba no longo périplo, tocando em todos os portos, até se desfazer em mares gelados; e acaba depois que se viu a bruma que veste o mundo; na janela que se abre, na janela que se fecha; às vezes não acaba e é simplesmente esquecido como um espelho de bolsa, que continua reverberando sem razão até que alguém, humilde, o carregue consigo; às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido; mas pode acabar com doçura e esperança; uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor; na verdade; o álcool; de manhã, de tarde, de noite; na floração excessiva da primavera; no abuso do verão; na dissonância do outono; no conforto do inverno; em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba.

sábado, outubro 3

Tuitando, um novo verbo

Ela insistia em invadir nervos e mente. Enquanto eu resistia: não era mulher de me entregar sem mais nem menos a uma depressãozinha qualquer


Nessa quebra de braço, vitória dividida. Salva pelo gongo do trabalho irrevogável. E de uma ligação de NY anunciando momentos de alegria.