terça-feira, janeiro 26

É verão!


Já tive verões mais animados. Enfrentava a fila de ônibus na maior esportiva e viajava cinqüenta, sessenta minutos, do centro de Vitória até a Praia da Costa. O point era bem no final, próximo ao local onde hoje está o clube Libanês. Pra compensar a viagem, tinha que ficar lá pelo menos até as duas da tarde. Era bronca na certa quando chegava em casa, mas valia a pena pelo bronze e pelas pernas grossas da rapaziada. Depois tinha os embalos de sábado à noite. Quanto romantismo! E muita diversão. Tirando os rocks, cha-cha-chas e outros ritmos, com coreografia própria, a gente dançava agarradinho ao som dos Beatles, Chico Buarque e muita MPB. As melhores danceterias funcionavam nas próprias faculdades, podem acreditar! Ali acontecia de tudo, desde reuniões políticas até beijos escancarados e amassos disfarçados. Vida cultural intensa: cineclube, peças locais, festival de música e de poesia. E assim todo mundo se conhecia de nome ou de vista. E os relacionamentos costumavam durar mais que um verão. Às vezes permaneciam uma vida inteira. Ah, ia esquecendo dos botecos. Alguns famosos, ponto de encontro da intelectualidade jovem; outros nem tanto, mas onde conviviam civilizadamente os mais engajados e os menos engajados. Gostoso era voltar pra casa tarde da noite, caminhando pelas ruas desertas do centro da cidade. Conversando e rindo muito, talvez pelo excesso de cerveja. Ou simplesmente por felicidade. Verões inesquecíveis! Não saberia dizer por que vieram à tona justo agora... talvez pelo contraste com este verão de sol brilhante e quente, mas sem o calor de outros tempos. Em que esquina se perderam os sonhos e a audácia daqueles verões tão calorosos?

domingo, janeiro 24

Metamorfose


Começou assim devagarzinho. Fugia do espelho, sempre achava que a imagem refletida não coincidia com aquela que viu pela última vez. Quase não saía de casa, não suportava o calor, que oscilava entre 35 e 40 graus. Quando era absolutamente necessário, saía à rua depois das seis da tarde com o sol começando a esfriar. Seu contato com o mundo se restringia às notícias filtradas pelos telejornais: escândalos, crimes, acidentes graves, catástrofes naturais, coisas do gênero. Ou a mais uma história de helena no horário nobre da emissora global. Começou a achar que havia um plano para acabar com a vida do planeta, algo como seres de outro planeta travestidos de governantes, que ganham a confiança do povo e depois a destroem inescrupulosamente. Roubos, mentiras, medidas enganosas, impostos escorchantes. Ano após ano as condições de vida pioravam e milhares de pessoas acreditavam o contrário. Os discursos enganosos pareciam anestesiar as consciências mais e mais. Decididamente já não via saída. Então teve crises de ansiedade, depressão, e, por último, síndrome do pânico. Fechada em casa, passava o dia conectada à internet, tentando encontrar alguma palavra de esperança. Nada lhe parecia verdadeiro, porém, nem mesmo as manifestações solidárias às vítimas de um terremoto que não deixou pedra sobre pedra num país latino americano. O telefone passava dias, semanas, sem tocar. Os amigos, desconfiados de que alguma coisa ia mal, se retraíram. A família já dava como um caso perdido. Ela começava a dar sinais de transtornos mentais. Começou a falar sozinha, o corpo vez por outra tremia. Um dia sonhou que estava feliz, no fundo do mar. Quando acordou, se deu conta de que tinha se transformado numa ostra.

____________________________________________________________________

As pérolas são feridas curadas. As pérolas são produtos da dor. A pérola é o resultado da entrada de algo indesejável no interior da ostra, um parasita ou um grão de areia. A parte interna da concha de uma ostra é chamada nácar. Quando um grão de areia a penetra causa dor e sofrimento, porém as células do nácar começam a trabalhar, produzindo uma substância e cobrindo o pequeno grão de areia para proteger o corpo indefeso da ostra, formando, assim, a pérola.

quarta-feira, janeiro 13

Ano novo, tragédias nossas

2010 começou pesado. Como se não bastasse a tragédia na ilha Grande e em Angra na noite da virada do ano, o dilúvio no sul com rios transbordando e inundando cidades inteiras, o casario de um patrimônio histórico no interior de São Paulo sendo levado pelas águas, pontes desabando como castelos de areia e pessoas, muitas pessoas,desabrigadas, desesperadas, mortas, assistimos, aterrorizados, a tragédia de ontem no Haiti. Apesar de não ficar muito distante de terras brasileiras, do Haiti sabemos apenas que se trata do país mais miserável das Américas e que sempre enfrentou guerras e ditaduras sangrentas. Neste momento é controlado por forças da ONU, das quais fazem parte contingentes de soldados brasileiros. O grave terremoto que destruiu mais de 60% da capital Porto Príncipe, matou milhares de haitianos, e também muitos dos brasileiros que ali praticam o voluntariado para amenizar a fome e as precárias condições de vida da população local. A pergunta que não quer calar: que lição devemos tirar desses fatos que atropelaram o nosso cotidiano no momento em que ainda nos desejávamos um ano novo cheio de alegrias e muitas coisas boas? O que temos que aprender dessa forma tão dolorosa? Fica a pergunta. Por oportuna, reproduzo uma declaração de D. Paulo Evaristo Arns, ex-arcebispo de SP e irmão da médica Zilda Arns, uma das vítimas brasileiras no terremoto do Haiti: “Não é hora de perder a esperança!”

sexta-feira, janeiro 1

novo ano

foto Folhaonline

FELIZ ANO NOVO!


UM 2010 NOTA 10 PARA MEUS QUERIDOS LEITORES !