quarta-feira, março 17

Mais poesia


Hoje vamos de Ferreira Gullar.
Adoro!


Traduzir-se


Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?

sábado, março 13

Nada a declarar



Tem sempre um Leminski pronto para socorrer a gente quando não sabemos o que dizer. É só buscar na coletânea e encontramos algum poema que traduza a ideia que está lá em nossa cabeça, mas insiste em não tomar a forma que se deseja. É, veia poética não é pra qualquer um!
Bem, fui lá beber na fonte do poeta e encontrei algo bem de acordo com meu estado de espírito: mais que irreverente, abusado .

Razão de Ser


Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?

(Paulo Leminski)

segunda-feira, março 8

DIA DE QUÊ???


Eles morrem de inveja por termos um dia só nosso, um dia para comemorar nossa inteligência, nossa garra, nossa força e nosso olhar generoso sobre a vida e as pessoas. Profissional, mãe, avó, amiga, companheira, “mulher é desdobrável”, como diz Adélia Prado. Por que não tem também um dia do Homem? E dia do Sogro? Vocês não querem igualdade de direitos? Justamente porque queremos, sim, igualdade de direitos, é que existe um Dia da Mulher. Ora, vão estudar um pouco de História para saber como essa comemoração surgiu. E nos deixem curtir em paz nosso dia, nosso brilho que incomoda, nossas virtudes. O dia 8 de março é só para lembrar a vocês, homens, que nós existimos e que o mundo pode ser bem melhor quando vocês nos aceitarem, de braços e corações abertos, como aliadas.

sexta-feira, março 5

Meu pé esquerdo, parte 2 – a missão

Pé de árvore, pé-de-valsa, pé de vento, pé-de-moleque, pé de pato, pé-de-galinha. Pé de anjo, pé quente, pé frio, pé na tábua, pé do ouvido. Pé na bunda? Não!! Pé, pezinho, pezão. Ai, meu pé! Até quando vou ter que te adular? primeiro calor, depois gelo, ai, ai, ai, estica daqui, massageia de lá... E eu doida pra botar o pé no mundo outra vez, assim, sem ter que ir num pé e voltar noutro, sabe como é? Tudo bem, sou paciente e tenho os pés no chão: andar mancando é um pé no saco, mas não vou meter os pés pelas mãos. Muita calma nessa hora, diz o fisioterapeuta, isso não cura da noite pro dia não. Mas pode acreditar, meu pé esquerdo, só mais alguns dias e botamos o pé na estrada, eu, você e o solidário direito, que bem que merece. Vai ser tudo nos conformes, sapato sem salto, mas sem perder a pose; passinhos lentos, mas seguros, pé ante pé. Juro de pés juntos!