quinta-feira, julho 30

Drummond, sempre Drummond

“Que pode uma criatura senão, entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho,em rotação universal,
senão rodar também, e amar ?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia ?”

Os versos – lindos – pertencem ao poema Amar, de Drummond. Os questionamentos do poeta não terminam aí, mas foi esse início que me veio à mente assim, de repente, quando pensei em postar algo neste fim de tarde. Vai saber por quê. Nem posso dizer que este é meu poema preferido. Em se tratando de Drummond, aliás, estabelecer qualquer predileção seria “un embarras du choix”, como diriam os franceses. Então, o que teria acionado no meu cérebro tal associação? Ora, não encontrei ninguém especial, tive um dia agitado, nenhuma melancolia passou por perto, estou focada em decisões que não tangenciam nem de leve questões amorosas, etecetera etecetera. No entanto, os versos iniciais do poema vieram à tona de uma só vez, claros, incisivos.

Corri à antologia para checar as palavras exatas de algumas sequências. Permanece o mistério! E daí? Você, meu parceiro, provavelmente concorda que isso não tem a menor importância. O que vale mesmo é o fato de versos escritos há tanto serem ainda tão marcantes e poderem ser recuperados na memória com tanta facilidade. Melhor deixar de lado as explicações, retornar ao início e refletir sobre o significado das palavras do poeta.

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