Em muitas culturas no mundo, a lua simboliza a energia feminina. Talvez por isso mesmo eu mantenha com ela uma inexplicável ligação, uma relação de bem-querer, de respeito, admiração, reconhecimento pela sua intensa influência sobre a natureza e os seres vivos. Cantada por incontáveis poetas, ela aceita ser cortejada sem perder a altivez e continua inspirando os enamorados em todos os cantos do planeta. Mas foi uma poeta brasileira quem conseguiu traduzir esse sentimento de semelhança lua-mulher em versos de rara sensibilidade. Eu adoro este poema, escrito nada mais, nada menos, por Cecília Meirelles. É ele que reproduzo a seguir, nesta noite de lua cheia quase passando a minguante.
Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.
Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.
E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...
Lindo, não? Pois quando eu menos esperava, dei de cara aqui na rede com uma composição versando sobre o mesmo tema, também muito expressiva. Aliás trata-se de um “comentário” sobre a Lua Adversa, como diz sua autora, Mara Regina Weiss. Vale a pena conhecer essa versão.
Eu tenho fases, como a Lua
Eu tenho fases como a lua,
ora sou cheia, ora minguante;
ora aqui dentro, ora na rua,
quero ficar e vou adiante!
Eu sou opaca e sou brilhante,
sou de ninguém (às vezes tua);
Eu tenho fases como a lua,
ora sou cheia, ora minguante...
Sou verdadeira, nua e crua,
mas quando mínguo, inconstante,
eu sou uma pena que flutua;
mulher, menina, sou mutante!
Eu tenho fases como a lua...
(Comentando Lua Adversa de Cecília Meirelles)
Mara Regina Weiss
Publicado no Recanto das Letras em 24/09/2007
Pra não dizer que não falou, agora falou sim, em grande estilo. Fiquei feliz com o seu e-mail e mais ainda ao ver Cecília Meirelles por aqui. E aí lembrei de uma frase da própria que é mais ou menos assim: um poeta é sempre irmão do vento e da água, pois deixa seu ritmo por onde passa.
ResponderExcluir