segunda-feira, setembro 20
Sarah salvação
Sarah diz que gosta. Eu gosto que Sarah goste.
Sarah ri com as bobagens. Eu gosto de fazer Sarah rir.
Sarah lê, opina, faz piada. Eu adoro receber comentário de Sarah.
Sarah sara minhas dores e alegra minha tristeza.
Um escriba sem leitores tem utilidade não.
Então seria Sarah minha salvação?
domingo, setembro 19
A beleza e a miséria
segunda-feira, setembro 13
Mas nem tudo são flores...
Aí em cima a nota que esta vítima recebeu de algum espertinho portenho, igualzinha à verdadeira; a única diferença é o papel: passando a mão se percebe que é fotocópia, me explicou um senhor honesto. Pode?
domingo, setembro 12
'Bora comprar!
sábado, setembro 11
Buenos Aires, capital do Brasil
I'm back
sábado, julho 24
Pra começar, um pouco de poesia
Bem no Fundo
No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto
a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo
extinto por lei todo o remorso,
maldito seja que olhas pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais
mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.
(Paulo Leminski)
Por onde anda a escrevinhadora?
O pior é que dei um olhada e descobri que a fonte está seca. O problema é comigo mesma, que furei um compromisso que tinha estabelecido. Aposto que
ninguém deu pela minha ausência, ninguém lê minhas abobrinhas mesmo.
Vou pensar em alguma coisa, vou pensar em alguma coisa...
sábado, junho 5
Sinal Fechado
sexta-feira, junho 4
quinta-feira, junho 3
Haja pobreza de espírito!
Por força das circunstâncias, trabalho entre muitos narcisos. Nada contra pessoas com auto-estima no grau máximo, mas quando sua atitude se transforma em agressão aos colegas, perco a paciência. O problema é que elas – as tais narcisistas - só olham pro próprio umbigo e não estão nem aí para a existência e os direitos dos outros seres. A competição no trabalho as torna egoístas: na distribuição das tarefas, querem sempre escolher primeiro, os outros que fiquem com o resto. E quando alguém lhes diz alguma verdade, desnudando seus secretos interesses, aí é um deus-nos-acuda, viram bicho, perdem as estribeiras, botam a boca no trambone. O pior é que posam de gente do bem, gente piedosa. Pobres de espírito, isso, sim, é o que são. Na última semana tive que enfrentar duas dessas criaturas e fui forçada a lhes mostrar que o mundo não gira conforme sua vontade. Disgusting! Mas de vez em quando alguém precisa trazer essas colegas de volta à realidade. Pronto, falei!
domingo, maio 23
domingo, maio 2
Feriado no sábado, ruas desertas?
Sexta-feira, seis horas da tarde. Ia receber a família para um vin d’honeur, daí resolvi ir ao supermercado comprar umas cositas para mastigar. Bem, parece que todos no bairro tiveram a mesma ideia porque tinha gente saindo pelo ladrão. Primeiro foi uma guerra para estacionar. Depois uma luta para encontrar um carrinho disponível. Parecia que tinham anunciado alguma catástrofe para os próximos vinte dias e o povo tinha corrido para comprar provisões. Nada disso: era fim de mês e véspera de feriado de primeiro de maio (logo no sábado, que pena), não tinha mais o que comer em casa, imagino. O pior foi enfrentar a fila do caixa depois: mínimo de quarenta minutos, sem direito a reclamação. Pensa que acabou? Que nada, o trânsito estava uma loucura! Como são pacientes e educados os motoristas desta cidade! E em especial deste bairro, Jardim da Penha. Aliás, o trânsito aqui é um caso à parte. Nas rotatórias, quem vem na pista da esquerda quer entrar (e entra!) na rua da direita. Nas pracinhas (ai, as pracinhas!), há pelos menos quatro faixas para pedestres, então é preciso atenção redobrada para não atropelar ninguém: as pessoas vão atravessando, cheias de orgulho, se sentindo cidadãs que podem atravessar as ruas em passo de tartaruga, que os motoristas esperam cal-ma-men-te. Tão calmos, que mal avistam um pedestre vindo em direção à faixa, mesmo que faltem ainda uns dez metros, já freiam para esperar que elas cheguem ao meio fio. EITCHA! Daí vem mais outra, mais outra, mais outra... e mais uma bicicleta, mais duas motos... Ai, como são civilizados motoristas e pedestres, em Jardim da Penha, em sua convivência exemplar!
quinta-feira, abril 8
Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa!
sábado, abril 3
Com chocolate e com afeto
sexta-feira, abril 2
E aí, seu Coelho?
Coe-lhi-nho da Pás-coa, que tra-zes pra mim? Um o-vo, dois o-vos , três...
Ei, seu Coelho, dá pra negociar todo esse chocolate? Se eu engordar mais um quilo, explodo! Daí que prefiro algo mais diet. Que tal um moreno, grisalho, em forma, olhos de qualquer cor? Nem alto, nem baixo, nem gordo, nem magro e, principalmente, aparência de homem, conversa de homem, cheiro de homem, pegada de homem, inteligência e iniciativa de mulher. Ah, tem que ser livre e desimpedido e querendo algo mais que uma sombra pra amarrar o cavalo. E também gostar de retribuir sem usura tudo o que receber. Por último, tem que ser muito divertido e pouco pegajoso. O quê? Tá difícil juntar tudo isso numa pessoa só? Tá bem, tá bem, então pode substituir por um Alpino nº 23 da Nestlé. Dá quase no mesmo!
quarta-feira, março 17
Mais poesia
Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?
sábado, março 13
Nada a declarar
Tem sempre um Leminski pronto para socorrer a gente quando não sabemos o que dizer. É só buscar na coletânea e encontramos algum poema que traduza a ideia que está lá em nossa cabeça, mas insiste em não tomar a forma que se deseja. É, veia poética não é pra qualquer um!
Bem, fui lá beber na fonte do poeta e encontrei algo bem de acordo com meu estado de espírito: mais que irreverente, abusado .
Razão de Ser
Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?
(Paulo Leminski)
segunda-feira, março 8
DIA DE QUÊ???
Eles morrem de inveja por termos um dia só nosso, um dia para comemorar nossa inteligência, nossa garra, nossa força e nosso olhar generoso sobre a vida e as pessoas. Profissional, mãe, avó, amiga, companheira, “mulher é desdobrável”, como diz Adélia Prado. Por que não tem também um dia do Homem? E dia do Sogro? Vocês não querem igualdade de direitos? Justamente porque queremos, sim, igualdade de direitos, é que existe um Dia da Mulher. Ora, vão estudar um pouco de História para saber como essa comemoração surgiu. E nos deixem curtir em paz nosso dia, nosso brilho que incomoda, nossas virtudes. O dia 8 de março é só para lembrar a vocês, homens, que nós existimos e que o mundo pode ser bem melhor quando vocês nos aceitarem, de braços e corações abertos, como aliadas.
sexta-feira, março 5
Meu pé esquerdo, parte 2 – a missão
segunda-feira, fevereiro 22
Verão visto da varanda
terça-feira, fevereiro 16
Meu pé esquerdo
Brindou-nos a perfeição divina com alguns órgãos em duplicidade: dois pulmões, dois rins, ovários, olhos, orelhas, e também dois braços, duas pernas e assim por diante. Eu, particularmente, tenho razões de sobra para adorar essa decisão do Criador. Se eu não tivesse dois rins, não teria tido a oportunidade de sobreviver nesses mais de trinta anos, quando um deles começou a trabalhar desordenadamente, deu curto-circuito e precisou ser sumariamente extirpado. Bem, apesar de os órgãos serem duplos, fazem questão de demonstrar que são bem diferentes um do outro. Acha exagero? Então por que um sapato sempre fica mais justo num dos pés? E o anel, que no dedo da mão esquerda entra folgado, enquanto no da direita só sai passando sabonete? Não vamos esquecer também dos testes no oftalmologista – raramente o grau necessário a um olho é igual ao do outro. Quem quiser tirar a teima é só fazer o teste do rosto. Tampando verticalmente um dos lados com uma folha de papel ou semelhante, olhe atentamente o lado direito, depois o esquerdo: as desigualdades são tão grandes que não parecem integrar o mesmo rosto. É, é assim mesmo, os órgãos duplos têm sua própria personalidade, do mesmo jeito que gêmeos univitelinos.
Desde ontem essa reflexão – de indiscutível importância para a humanidade!! - bate e volta na minha cabeça. Penso no desentendimento que poderá ter havido entre meu pé direito e meu pé esquerdo. Habitualmente harmoniosos e companheiros, eles me advertem sobre obstáculos que encontram pelo caminho e, mesmo quando estou distraída, eles dão um jeito de enviar uma mensagem rápida ao cérebro acendendo a luz vermelha. Desta vez, não. Na descida de uma rampa discreta na porta do Banco do Brasil (aquele da reta da Penha), o pé direito fez seu trajeto corretamente e o esquerdo... ah, traidor!... o esquerdo se distraiu, pisou em falso, torceu e me jogou no chão feito uma jaca madura. Ai que dor! Que íntima motivação teria tido o desalmado pra me fazer uma coisa dessas? Terá sido medo de eu o levar pra cair no samba na curva da Jurema? Como foi capaz de pensar isso de mim? De agora em diante, vai perder a mordomia. Toda noite ele era o primeiro a ser massageado quando eu ia pra cama. Comprei até um creme à base de mentol, arnica e lavanda para deixá-lo mais fresquinho e repousado. Mal agradecido! Graças a esse atrevido, vou passar uma temporada me movimentando com a ajuda de um par de muletas. Imagine o que é sustentar oitenta quilos num pé só, pulando como um saci. O pé direito é que está pagando o pato, coitado. E tem mais: ainda tenho que colocar gelo muitas vezes ao dia e ficar o tempo todo de perna pra cima. Que isto sirva de lição a você também. Nunca confie num pé esquerdo tão cheio de si.
domingo, fevereiro 7
Um carnaval à procura de identidade
Bem, estive assistindo pela tv uma ou outra escola capixaba desfilar. Vamos combinar, nos últimos cinco, seis anos, a apresentação das escolas passou de um amadorismo sofrível a um profissionalismo pretensioso. É louvável o esforço para melhorar o nível e fazer dos desfiles um espetáculo apresentável. Mas ainda tem muito chão pra caminhar. Vi muita gente que parecia ter sido pega no laço para desfilar, mais preocupada em fazer pose para a câmara ou dar adeusinho pros amigos na arquibancada, sem nem fingir que estava cantando o samba ou dando alguns passinhos. Desfile é alegria e diversão, mas não é brincadeira. Nosso carnaval tem história e os compositores da velha guarda, ritmistas e sambistas das comunidades merecem ser respeitados. Fiquei pensando se é justo importar carnavalescos e técnicos do carnaval de Parintins ou do Rio de Janeiro, como ocorreu este ano. Da mesma forma, vale a pena trazer porta-bandeira e mestre-sala cariocas para fazer evoluções sem nenhuma garra no Sambão do povo? E o que dizer dos destaques ‘estrangeiros’ que desfilavam as caras fantasias nos pobres carros alegóricos? Vale tudo pelo espetáculo? E mais: ouvi dizer que até os sambas-enredo estão ganhando um tempero carioca. Isso, segundo o informante, profundo conhecedor do mundo do samba capixaba, descaracteriza as escolas, anula sua marca registrada. Conclusão: se as escolas não tomarem cuidado, muito em breve vão se transformar em sucursais das escolas cariocas. Isso, aliado à praga dos trios elétricos que há algum tempo animam as multidões nas principais praias do Estado, dá bem a medida da crise de identidade do carnaval capixaba, perdido entre a cariocarização e a baianização. Onde é que isso vai acabar?
foto: gazetaonline
Carnaval em duas etapas
Vitória talvez seja a única capital do Brasil que tem dois carnavais no mesmo mês, com intervalo de uma semana entre um e outro. Ou melhor, o carnaval é realizado em duas etapas: num fim de semana, tem o desfile das escolas no Sambão do Povo, a Sapucaí da cidade. No fim de semana seguinte, é o carnaval popular, com blocos de rua em vários bairros, bailes infantis, trio elétrico e praias cheias com muito barulho. Diz a lenda que essa invenção foi introduzida no calendário da folia capixaba nos idos de 1997 porque o então prefeito, que tinha estudado e trabalhado no Rio, freqüentava a Banda de Ipanema e desfilava por uma escola carioca. Assim, para poder cumprir sua agenda naquela cidade e não se ausentar da festividade na cidade que governava, propôs a antecipação do desfile em Vitória. Como o substancial patrocínio da Prefeitura, a Liga das Escolas de Samba não teve outra saída senão acatar. O prefeito foi reeleito e o carnaval antecipado prevaleceu por dez anos. O prefeito seguinte manteve o que já havia se tornado tradição. A Liga justifica dizendo que muita gente viaja durante o Carnaval e não teria sentido investir tanto num desfile para pouca gente apreciar. Pouca gente quem, cara pálida?
sábado, fevereiro 6
Quando a família se desfez
Quando a família se desfez, uma parte dela também se desintegrou junto. Era como se tivesse afundado num rio caudaloso e turvo. Por mais que tentasse, não conseguia manter-se na superfície. Se conseguia recuperar o fôlego, logo a correnteza a levava, jogando-a de encontro às pedras. Afundava e vinha à tona sucessivas vezes. Então agarrava com força a rala vegetação, para desfrutar de alguns momentos de paz, antes que o ciclo recomeçasse. Nesse vai-e-vem, sem que se desse conta, foi se fortalecendo. Até que um dia se viu em terra firme, livre do redemoinho das águas.
Quando a família se desfez, mal tinha saído da adolescência. Ah, se pudesse, desaparecia no mundo! Eles não tinham o direito de anunciar, assim, sem mais nem menos, que estavam se separando. Como ia voltar pra casa e encontrar um lugar vazio na mesa do almoço? Como ia ser a vida dali em diante? Ambiente pesado, grana regulada, mágoas e interrogações. Mais que nunca precisávamos umas das outras, mas a dor impedia os gestos de carinho, faltava força e confiança para dar o passo adiante.
Quando a família se desfez, entendeu, depois de muito sofrimento, que a vida não pára. Tratou de enfiar a cara nos estudos e entrar no mercado de trabalho. Não era a primeira nem seria a última filha de pais separados (embora isso não estivesse nos seus planos). Como tudo tem suas compensações, cedo aprendeu a enfrentar entrevistas de emprego, aceitar desafios e mostrar que sabia das coisas. Conviveu com superiores educados e superiores grosseiros, patrões competentes e patrões que estão no cargo por simples favor. Mas conheceu também gente do bem que lhe deu a mão, carinho, estímulo. Nesse caminho construiu boas amizades.
Quando a família se desfez, percebeu que sua vida ia dar uma guinada de 180 graus, claro. Mas não imaginava que a sorte a levaria para tão longe. Até que valeu de alguma coisa ter nascido por acidente em Lisboa. Pois foi justamente ali que se instalou, depois de um estágio de um ano numa cidadezinha próxima. Era um sonho: sozinha em plena Europa, num país estranho que fala uma língua parecida com a nossa, dona do seu nariz, construindo seu próprio destino. Ali trabalhou duro, montou sua casa e fez suas próprias escolhas. Viajou. Ganhou experiência, amadureceu emocionalmente, enfim, se transformou numa excelente administradora no ramo de petróleo. Viajou. Conheceu pessoas e aprendeu mais sobre a alma humana. Algumas vezes foi feliz.
Nesses mais de seis anos em que permaneceu do outro lado do oceano, a ponte com a mãe se consolidou. Ela, a mãe, se alegrou com as vitórias da filha, se afligiu com suas ansiedades, se preocupou a cada doença e se desesperou com o tornozelo fraturado que precisou ser fixado com duas placas de metal. Abraçaram-se virtualmente centenas de vezes e ao vivo, talvez uma meia dúzia. Orgulhou-se milhares de vezes da coragem da filha. E só segurava a saudade porque sabia que é assim que tem que ser, que “os filhos são para o mundo” e que os ganhos eram infinitamente maiores que as perdas.
“Para tudo há um tempo, para cada coisa há um momento debaixo dos céus...” Chegou o tempo da recompensa. Chegou o tempo do reencontro. A filha está voltando para casa. E a mãe, vibrando de felicidade, abre os braços para recebê-la. Wellcome home, kid.
terça-feira, janeiro 26
É verão!
domingo, janeiro 24
Metamorfose
Começou assim devagarzinho. Fugia do espelho, sempre achava que a imagem refletida não coincidia com aquela que viu pela última vez. Quase não saía de casa, não suportava o calor, que oscilava entre 35 e 40 graus. Quando era absolutamente necessário, saía à rua depois das seis da tarde com o sol começando a esfriar. Seu contato com o mundo se restringia às notícias filtradas pelos telejornais: escândalos, crimes, acidentes graves, catástrofes naturais, coisas do gênero. Ou a mais uma história de helena no horário nobre da emissora global. Começou a achar que havia um plano para acabar com a vida do planeta, algo como seres de outro planeta travestidos de governantes, que ganham a confiança do povo e depois a destroem inescrupulosamente. Roubos, mentiras, medidas enganosas, impostos escorchantes. Ano após ano as condições de vida pioravam e milhares de pessoas acreditavam o contrário. Os discursos enganosos pareciam anestesiar as consciências mais e mais. Decididamente já não via saída. Então teve crises de ansiedade, depressão, e, por último, síndrome do pânico. Fechada em casa, passava o dia conectada à internet, tentando encontrar alguma palavra de esperança. Nada lhe parecia verdadeiro, porém, nem mesmo as manifestações solidárias às vítimas de um terremoto que não deixou pedra sobre pedra num país latino americano. O telefone passava dias, semanas, sem tocar. Os amigos, desconfiados de que alguma coisa ia mal, se retraíram. A família já dava como um caso perdido. Ela começava a dar sinais de transtornos mentais. Começou a falar sozinha, o corpo vez por outra tremia. Um dia sonhou que estava feliz, no fundo do mar. Quando acordou, se deu conta de que tinha se transformado numa ostra.
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As pérolas são feridas curadas. As pérolas são produtos da dor. A pérola é o resultado da entrada de algo indesejável no interior da ostra, um parasita ou um grão de areia. A parte interna da concha de uma ostra é chamada nácar. Quando um grão de areia a penetra causa dor e sofrimento, porém as células do nácar começam a trabalhar, produzindo uma substância e cobrindo o pequeno grão de areia para proteger o corpo indefeso da ostra, formando, assim, a pérola.