terça-feira, fevereiro 16

Meu pé esquerdo


Brindou-nos a perfeição divina com alguns órgãos em duplicidade: dois pulmões, dois rins, ovários, olhos, orelhas, e também dois braços, duas pernas e assim por diante. Eu, particularmente, tenho razões de sobra para adorar essa decisão do Criador. Se eu não tivesse dois rins, não teria tido a oportunidade de sobreviver nesses mais de trinta anos, quando um deles começou a trabalhar desordenadamente, deu curto-circuito e precisou ser sumariamente extirpado. Bem, apesar de os órgãos serem duplos, fazem questão de demonstrar que são bem diferentes um do outro. Acha exagero? Então por que um sapato sempre fica mais justo num dos pés? E o anel, que no dedo da mão esquerda entra folgado, enquanto no da direita só sai passando sabonete? Não vamos esquecer também dos testes no oftalmologista – raramente o grau necessário a um olho é igual ao do outro. Quem quiser tirar a teima é só fazer o teste do rosto. Tampando verticalmente um dos lados com uma folha de papel ou semelhante, olhe atentamente o lado direito, depois o esquerdo: as desigualdades são tão grandes que não parecem integrar o mesmo rosto. É, é assim mesmo, os órgãos duplos têm sua própria personalidade, do mesmo jeito que gêmeos univitelinos.


Desde ontem essa reflexão – de indiscutível importância para a humanidade!! - bate e volta na minha cabeça. Penso no desentendimento que poderá ter havido entre meu pé direito e meu pé esquerdo. Habitualmente harmoniosos e companheiros, eles me advertem sobre obstáculos que encontram pelo caminho e, mesmo quando estou distraída, eles dão um jeito de enviar uma mensagem rápida ao cérebro acendendo a luz vermelha. Desta vez, não. Na descida de uma rampa discreta na porta do Banco do Brasil (aquele da reta da Penha), o pé direito fez seu trajeto corretamente e o esquerdo... ah, traidor!... o esquerdo se distraiu, pisou em falso, torceu e me jogou no chão feito uma jaca madura. Ai que dor! Que íntima motivação teria tido o desalmado pra me fazer uma coisa dessas? Terá sido medo de eu o levar pra cair no samba na curva da Jurema? Como foi capaz de pensar isso de mim? De agora em diante, vai perder a mordomia. Toda noite ele era o primeiro a ser massageado quando eu ia pra cama. Comprei até um creme à base de mentol, arnica e lavanda para deixá-lo mais fresquinho e repousado. Mal agradecido! Graças a esse atrevido, vou passar uma temporada me movimentando com a ajuda de um par de muletas. Imagine o que é sustentar oitenta quilos num pé só, pulando como um saci. O pé direito é que está pagando o pato, coitado. E tem mais: ainda tenho que colocar gelo muitas vezes ao dia e ficar o tempo todo de perna pra cima. Que isto sirva de lição a você também. Nunca confie num pé esquerdo tão cheio de si.

4 comentários:

  1. essa foto é plágio!
    hehehehheheh

    Beijo!

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  2. olá! azar ter torcido o pé, no Carnaval, dado que os Brasileiros, adoram o Carnaval. beijos e uma boa recuperação. Um português

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  3. Oh, minha amiga! Que azar enorme, hein. Mas, gente, não posso negar que esse pé te deixou inspiradíssima! Gostei da reflexão do começo ao fim. Entendia muito disso já, eu acho. Temos dois lados, isso não há como mudar ou negar. Mas isso tá longe de ser só visível e físico. Concorda?

    Não descuide dele não... a culpa foi da rampa desnivelada! (risos)

    Beijos, e cuide-se, Rainha!

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  4. Olá! melhor do pé ? beijos e uma boa recuperação.

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