segunda-feira, março 23

Valparaíso, patrimônio cultural da Humanidade

Quando eu voltar ao Chile, quero conhecer melhor Valparaíso, uma cidade singular, da qual vi apenas o que foi pré-determinado pela guia, durante aproximadamente duas horas. Em 2003, a UNESCO incluiu o centro histórico de Valparaíso na lista do patrimônio que deve ser preservado para as gerações futuras. E para entender as razões dessa indicação é preciso circular calmamente pelas ruas da cidade, estabelecer contato com seus habitantes, sentir a atmosfera do lugar, já que Valparaíso não é uma cidade glamourosa, que desperte amor à primeira vista.

Como em tantas outras cidades em todo o mundo, inclusive brasileiras, ali também existe uma parte alta e outra baixa, mas com uma delimitação particular: na baixa estão os prédios da administração pública, monumentos, o centro financeiro e comercial, cafés e teatros, restaurantes, o porto. Na parte superior, aglomeram-se as residências, distribuídas em mais de 40 cerros (colinas, morros), que abrigam uma população estimada em 300 mil habitantes. Valparaíso já teve seus dias de glória, quando era escala obrigatória das rotas marítimas que queriam alcançar o Atlântico ou que procediam deste para navegar no Pacífico. Mas essa importância chegou ao fim quando, no início do século XX, os americanos construíram o canal de Panamá, que passou a fazer a ligação entre os dois oceanos. Apesar disso, o porto de Valparaíso continua sendo estratégico para o país.













Antes de viajar, ouvi de um conterrâneo que não valia a pena ir a Valparaíso,
preconceituosamente denominado por ele de “favelão”. Prefiro concordar com a observação
feita pela guia da excursão. Segundo ela, a própria geografia se encarregou de transformar a zona residencial de Valparaíso num espaço democrático. Ali ou se mora num morro, ou se mora noutro morro, não há outra alternativa. Construções de variados estilos, áreas, materiais e arquitetura convivem pacificamente lado a lado. Pessoas de alta classe média podem ter como vizinhos trabalhadores , todos, sem exceção estão sujeitos a transitar por ruas estreitas e sinuosas, becos e ladeiras íngremes. É claro que as ruas são pavimentadas e algumas delas permitem a circulação de veículos, mas o transporte coletivo é feito preferencialmente por meio de bondinhos que correm sobre trilhos. São 15 linhas de bondinhos, distribuídas pelos vários morros. Na parte baixa circulam ônibus, enquanto a ligação com as cidades vizinhas é feita por metrô.


Apesar dessas condições particulares, Valparaíso é uma cidade de grande efervescência cultural. Prova disso é que existem ali nada mais, nada menos, que 5 universidades em funcionamento. Além disso, é grande a movimentação política, já que o Congresso Nacional funciona nessa cidade e não em Santiago, como seria de esperar. Foi Pinochet quem transferiu os trabalhos legislativos para lá, em 1980, com o objetivo de isolar os parlamentares do centro do poder político. Agora, com o governo legítimo de Bachelet, espera-se que o retorno do Congresso para Santiago, uma discussão sempre na ordem do dia, possa ser resolvida em médio prazo.















O Congresso Nacional volta para Santiago?

Talvez agora você concorde comigo quando digo que seria muito interessante penetrar nos segredos dessa cidade, entender o modo como se dá a organização comunitária e as trocas sociais. Isso exigiria uma permanência maior no lugar e um contato mais direto com seus habitantes. Mesmo assim valeu muito a pena ter ido até Valparaíso. Bem no alto de um dos cerros, parada obrigatória para quem faz, como eu, turismo cultural, está situada
“La Sebastiana”, uma das três casas onde viveu Pablo Neruda, o mais conhecido poeta chileno
(as outras duas casas estão em Santiago e na Isla Negra).
Mas essa história Sherazade vai deixar para um post especial.

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