“Que pode uma criatura senão, entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho,em rotação universal,
senão rodar também, e amar ?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia ?”
Os versos – lindos – pertencem ao poema Amar, de Drummond. Os questionamentos do poeta não terminam aí, mas foi esse início que me veio à mente assim, de repente, quando pensei em postar algo neste fim de tarde. Vai saber por quê. Nem posso dizer que este é meu poema preferido. Em se tratando de Drummond, aliás, estabelecer qualquer predileção seria “un embarras du choix”, como diriam os franceses. Então, o que teria acionado no meu cérebro tal associação? Ora, não encontrei ninguém especial, tive um dia agitado, nenhuma melancolia passou por perto, estou focada em decisões que não tangenciam nem de leve questões amorosas, etecetera etecetera. No entanto, os versos iniciais do poema vieram à tona de uma só vez, claros, incisivos.
Corri à antologia para checar as palavras exatas de algumas sequências. Permanece o mistério! E daí? Você, meu parceiro, provavelmente concorda que isso não tem a menor importância. O que vale mesmo é o fato de versos escritos há tanto serem ainda tão marcantes e poderem ser recuperados na memória com tanta facilidade. Melhor deixar de lado as explicações, retornar ao início e refletir sobre o significado das palavras do poeta.
quinta-feira, julho 30
terça-feira, julho 28
Dançando conforme a música?
De vez em quando dou uma passeadinha nos colunistas da Veja online. Até para ter o termômetro dos ‘formadores de opinião’. Tem os conservadores ao extremo, os conservadores médios e os simplesmente conservadores . Todos os matizes políticos. Às vezes são até engraçados na sua tentativa de convencer a gregos e goianos de que o país não tem mais jeito, mas no geral, são patéticos. Por que você perde tempo lendo, então? - alguém poderia questionar. A resposta é simples: porque sei reconhecer e admirar a inteligência dos ‘formadores’, e respeito seu modo de pensar. Mas não é sobre nada disso que queria falar e sim destacar uma colunista em particular, a escritora e psicanalista Betty Milan, que mantém ali uma coluna chamada Consultório Sentimental. É o próprio! Os leitores escrevem contando alguma experiência traumática, fazem confidências e, claro, querem ouvir a opinião profissional de Milan. Discípula de Lacan, a moça não passa a mão na cabeça dos analisados. Mas tudo com muita competência e delicadeza. Foi de um desses conselhos que retirei o seguinte trecho: “Quem se enrijece numa posição, quem não tem ginga, sofre. A gente precisa aprender a dançar com a música e este aprendizado não tem fim porque a vida surpreende. Requer a nossa transfiguração, a mudança de perfil. Neste sentido, ela é como o teatro e nós como os atores que encarnam diferentes personagens.”
Fiquei alguns minutos matutando sobre tal ensinamento, tão simples e tão verdadeiro. Quantas personagens – boas, más, medianas – fui impelida a interpretar nesta minha existência, muitas delas conta a minha vontade! Algumas vezes resisti à mudança de caracterização, nadei contra a maré, quis imprimir um ritmo pessoal à música, transgredir... Realmente a vida surpreende! É preciso flexibilidade e perspicácia para perceber o que ela está querendo nos ensinar. E é o inesperado, é nesse desafio diário que reside a beleza de poder construir a felicidade.
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domingo, julho 26
Deu branco!
O que antes era vida pulsando nas folhas verdes embaladas pelo vento, se resume hoje a um paredão de concreto. Seria ela, a mudança de paisagem, a responsável pela ausência de idéias, da momentânea indisposição para escrever, do querer ficar quietinha no meu canto sem dar um pio sequer? Pela janela do meu escritório já não entra o sol nem o canto de sanhaços e sabiás. Em vez disso, o pi-pi-pi irritante do portão da garagem quatro andares abaixo, indicando um vai e vem incessante de carros. Tirante o branco mental e o mau humor just because, o resto dá pra tirar de letra. A gente se habitua a coisas piores, né não?
sábado, julho 25
Nos embalos de sábado à noite. Em casa.
Mais retrô impossível. De leve, neste sábado meio lá-meio cá, a letra de uma bela canção dos irmãos Gershwin, na voz da grande Billie Holiday. Para os que não conseguirem ouvir, resta a opção da letra abaixo. Ou procurar o título no Youtube. (Ouvir de preferência acompanhado de uma boa taça de vinho branco, como eu, agora. Sorry!)
http://www.youtube.com/watch?v=uzJMTSaAl8g
The Man I Love
( George Gershwin/Ira Gershwin)
Someday he'll come along
The man I love
And he'll be big and strong
The man I love
And when he comes my way
I'll do my best
To make him stay
He'll look at me and smile
I'll understand
And in a little while
He'll take my hand
And though it seems absurd
I know we both
Won't say a word
Maybe
I shall meet him Sunday
Maybe monday, maybe not
Still I'm sure
To meet him one day
Maybe Tuesday
Will be my good news day
He'll build a little home
Just meant for two
From which I'd never roam
Who would, would you?
And so all else above
I'm wating
For the man I love
http://www.youtube.com/watch?v=uzJMTSaAl8g
The Man I Love
( George Gershwin/Ira Gershwin)
Someday he'll come along
The man I love
And he'll be big and strong
The man I love
And when he comes my way
I'll do my best
To make him stay
He'll look at me and smile
I'll understand
And in a little while
He'll take my hand
And though it seems absurd
I know we both
Won't say a word
Maybe
I shall meet him Sunday
Maybe monday, maybe not
Still I'm sure
To meet him one day
Maybe Tuesday
Will be my good news day
He'll build a little home
Just meant for two
From which I'd never roam
Who would, would you?
And so all else above
I'm wating
For the man I love
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domingo, julho 19
Decisão difícil
Cena Um
Aquilo que se sabia existir teve, afinal, que ser enfrentado: o que fazer com aqueles animaizinhos presos durante tanto tempo naquele ambiente escuro e úmido? Tinham uma aparência péssima! Alguns mal se sustentavam nas pernas, outros estavam pálidos, com o pelo desalinhado e um olhar de espanto. A bem da verdade, parecia que lhes tinham retirado toda a energia e vontade de viver. Quantas vezes haviam desejado o carinho dos seus donos, uma atenção especial, um olhar que fosse... Mas tudo o que conseguiam, de tempos em tempos, era uma retirada rápida do cubículo, um apressado banho de sol, algum alimento especial e novamente a escuridão e o tédio. Durante anos ficaram assim, abandonados à própria sorte. Será que as alegrias que haviam proporcionado a seus donos, as confidências e carinhos que haviam compartilhado, os ensinamentos de ambas as partes, enfim, os laços de amizade, será que tudo isso havia caído, definitivamente no esquecimento? Não... a vida não podia ser tão injusta assim...
...............................................................................................................................
Cena Dois
A solução não podia esperar mais. Achei melhor não tomar nenhuma decisão sem ouvir as partes interessadas. Que destino deveria dar àqueles bichinhos de pelúcia cheirando a naftalina que habitavam a prateleira superior do guarda-roupa das crianças? Ambas as crianças já ultrapassaram a barreira dos 30 anos, para vocês terem uma idéia do tempo que seus fiéis amiguinhos ficaram, amontoados em sacos plásticos, fora de circulação. Mas por que será que a mãe das crianças conservou por tanto tempo os felpudinhos, mesmo sabendo que poderiam desencadear uma crise alérgica nas filhas, que não suportam poeira ou mofo? Seguramente por excesso de romantismo. Pode ter pensado que os netos (que nem sabe se virão) talvez gostassem de ter em mãos brinquedos com os quais suas mães brincaram (isto se não forem alérgicos também!). Ou talvez, quem sabe, guardar alguns objetos que fizeram parte da infância e pré-adolescência das filhotas seria uma forma de “aprisionar” aqueles momentos na sua memória, uma forma de pensar que elas não cresceram e que necessitam ainda de sua proteção para se livrar dos espinhos da vida. Freud explica? Pode ser! Mas não seria uma raridade no universo materno. Vai, corre lá e pergunta a sua mãe o que ela pensa a respeito.
Final da história? Guardei os bichinhos de pelúcia “por mais um tempo, até eu ver quais deles quero doar para uma instituição de caridade”, como pediu uma filha. E também fiz fotos deles, “pra guardar de lembrança”, como resolveu a outra filha, mais pragmática.
Aquilo que se sabia existir teve, afinal, que ser enfrentado: o que fazer com aqueles animaizinhos presos durante tanto tempo naquele ambiente escuro e úmido? Tinham uma aparência péssima! Alguns mal se sustentavam nas pernas, outros estavam pálidos, com o pelo desalinhado e um olhar de espanto. A bem da verdade, parecia que lhes tinham retirado toda a energia e vontade de viver. Quantas vezes haviam desejado o carinho dos seus donos, uma atenção especial, um olhar que fosse... Mas tudo o que conseguiam, de tempos em tempos, era uma retirada rápida do cubículo, um apressado banho de sol, algum alimento especial e novamente a escuridão e o tédio. Durante anos ficaram assim, abandonados à própria sorte. Será que as alegrias que haviam proporcionado a seus donos, as confidências e carinhos que haviam compartilhado, os ensinamentos de ambas as partes, enfim, os laços de amizade, será que tudo isso havia caído, definitivamente no esquecimento? Não... a vida não podia ser tão injusta assim...
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Cena Dois
A solução não podia esperar mais. Achei melhor não tomar nenhuma decisão sem ouvir as partes interessadas. Que destino deveria dar àqueles bichinhos de pelúcia cheirando a naftalina que habitavam a prateleira superior do guarda-roupa das crianças? Ambas as crianças já ultrapassaram a barreira dos 30 anos, para vocês terem uma idéia do tempo que seus fiéis amiguinhos ficaram, amontoados em sacos plásticos, fora de circulação. Mas por que será que a mãe das crianças conservou por tanto tempo os felpudinhos, mesmo sabendo que poderiam desencadear uma crise alérgica nas filhas, que não suportam poeira ou mofo? Seguramente por excesso de romantismo. Pode ter pensado que os netos (que nem sabe se virão) talvez gostassem de ter em mãos brinquedos com os quais suas mães brincaram (isto se não forem alérgicos também!). Ou talvez, quem sabe, guardar alguns objetos que fizeram parte da infância e pré-adolescência das filhotas seria uma forma de “aprisionar” aqueles momentos na sua memória, uma forma de pensar que elas não cresceram e que necessitam ainda de sua proteção para se livrar dos espinhos da vida. Freud explica? Pode ser! Mas não seria uma raridade no universo materno. Vai, corre lá e pergunta a sua mãe o que ela pensa a respeito.
Final da história? Guardei os bichinhos de pelúcia “por mais um tempo, até eu ver quais deles quero doar para uma instituição de caridade”, como pediu uma filha. E também fiz fotos deles, “pra guardar de lembrança”, como resolveu a outra filha, mais pragmática.
sexta-feira, julho 17
Trocando a tartaruga por uma lebre
Estou na moda. A moda agora é GVT. Ela chegou prometendo banda larga de alta velocidade, preços competitivos e vantagens na telefonia fixa. ‘Venha ser feliz com a GVT’. Eu apostei. Até quando a felicidade vai durar, isso é imprevisível. Muito provavelmente até a prestadora conseguir roubar uma boa parte da concorrente e dominar o mercado. Okay, enquanto o serviço não cai de qualidade, aproveitemos a 25...
domingo, julho 12
sexta-feira, julho 10
Como se não bastasse...
Miséria pouca é bobagem, diz a sabedoria popular. E não é que, depois de ficar incomunicável durante algum tempo graças à dança das prestadoras de telefonia e banda larga, quando enfim consigo me reconectar com o mundo, meu computador deu pau. Resultado: troca de fonte, reformatação e, claro, perda de alguns arquivos e contatos. Tudo novo de novo. Será que posso, finalmente, trabalhar em paz?
segunda-feira, julho 6
Mudança 2, a missão!
Voltei! Agora sem interrupções forçadas, assim espero. A nova vida começa a entrar num compasso quase ideal. Sacumé? Adagio ma non troppo. Começo a me habituar com a arrumação dos móveis e com os lugares onde enfiei aquela pasta, os documentos, ou a roupa de inverno. E já não tropeço à noite quando vou à cozinha buscar um copo d’ água sem acender as luzes. Bom começo, não?
Apartamento de primeira locação tem lá sua vantagens, está tudo novinho e sem a energia de antigos moradores, que, vamos combinar, nem sempre é positiva. O lado negativo é que a gente tem que colocar tudo, desde um simples cabidinho para pendurar as roupas na porta do banheiro até instalar máquina de lavar, pendurar cortinas, quadros e tudo o mais que facilita a vida e deixa o ambiente mais acolhedor. Além dessas coisas básicas, mandei instalar também chave tetra e olho mágico na porta de entrada, embora algumas pessoas tenham achado uma extravagância, já que o prédio tem porteiro vinte e quatro horas. Será? Ainda faltam acertar muitos detalhes, mas nessa brincadeira já gastei uma baba – vocês não fazem ideia de como a mão-de-obra para esses pequenos serviços está cara. Sempre que tenho que desembolsar a grana suada pra recompensar o trabalho pesado de fazer um buraquinho na parede e colocar uma bucha e um parafuso, penso nas disparidades salariais do nosso país, por exemplo, meio sarney valendo três vezes mais que um professor...
Apartamento de primeira locação tem lá sua vantagens, está tudo novinho e sem a energia de antigos moradores, que, vamos combinar, nem sempre é positiva. O lado negativo é que a gente tem que colocar tudo, desde um simples cabidinho para pendurar as roupas na porta do banheiro até instalar máquina de lavar, pendurar cortinas, quadros e tudo o mais que facilita a vida e deixa o ambiente mais acolhedor. Além dessas coisas básicas, mandei instalar também chave tetra e olho mágico na porta de entrada, embora algumas pessoas tenham achado uma extravagância, já que o prédio tem porteiro vinte e quatro horas. Será? Ainda faltam acertar muitos detalhes, mas nessa brincadeira já gastei uma baba – vocês não fazem ideia de como a mão-de-obra para esses pequenos serviços está cara. Sempre que tenho que desembolsar a grana suada pra recompensar o trabalho pesado de fazer um buraquinho na parede e colocar uma bucha e um parafuso, penso nas disparidades salariais do nosso país, por exemplo, meio sarney valendo três vezes mais que um professor...
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